Saul Bass: o designer gráfico que revolucionou o cinema

Saul Bass, apesar de sua baixa estatura, foi um grande designer gráfico que revolucionou permanentemente o cinema. Ela nasceu em 1920 e faleceu no ano em que eu nasci, 1996 (o mundo perdia um gênio, mas ganhava outro). Começou trabalhando com identidade visual de estúdios de Hollywood, passou então para cartazes publicitários e trailers de filmes e chegou a trabalha com os maiores nomes do cinema internacional, como Hitchcock, Scorsese e Kubrick.

Introdução

Mas antes de falar da obra específica dele, eu gostaria de fazer uma breve digressão. Portanto, gostaria que você caro leito analisasse os vídeos abaixo.

O Mágico de Oz (1939)
Casablanca (1946)

Essas duas sequências de créditos iniciais demonstram bem como eram as aberturas de filmes no que vamos chamar de era pré Saul Bass. Eram apenas descritivos técnicos do filme, ou seja, quem fez, qual produtora, quais são os protagonistas, além é claro do nome da obra. Ou seja era uma certidão de nascimento do filme.

Apesar de essas duas obras, tanto O Mágico de Oz de 1939, quanto Casablanca de 1946 (dois clássicos por sinal), já representarem uma visão estética bem evoluída as origens do cinema principalmente hollywoodiano. Que era basicamente assim:

Créditos de abertura de “O Nascimento de uma Nação” de 1915, dirigido por D.W. Griffith.

Porém um fato que é inegável é que tanto o cinema mudo quanto as produções posteriores, já com diálogos, apesar de possuírem estéticas muito boas, traziam nos créditos elementos muito genéricos. Isso é apesar de serem bonitos não diziam nada sobre o filme e tampouco acrescentavam coisas à narrativa.

Portanto, passar pelos créditos iniciais era mais uma atividade enfadonha que deveria ser enfrentado, do que realmente uma parte da experiência do cinema.

Nas palavras do próprio Saul Bass, esses créditos eram basicamente “ignorados ou serviam como hora da pipoca.”

Ponto de Virada

Mas, agora olhem eu gostaria que você analisasse os trechos a seguir.

Monstros S.A. (2001) Pixar
Prenda-me se for capaz (2002)

Essas duas sequências de título iniciais diferem e forma e conteúdo, mas compartilham traços comuns. Além de pertencerem a filmes que foram lançados na mesma época, esses créditos iniciais são únicos. Isto é apresentam estética e conceitos visuais que só fazem sentido no contexto específico daqueles filmes.

Além disso esses trechos apresentam conceitos que serão mostrados no decorrer da trama. Por exemplo as portas de Monstros S.A. Ou ainda o jogo de gato e rato por aeroportos e rodovias em Prenda-me se for Capaz.

Saul Bass

E é então que entra o nosso amigo Saul Bass. Pois, todos esses conceitos surgiram a partir de sua contribuição para o cinema.

Como já mencionamos nosso herói começou trabalhando em peças de publicidade para filmes hollywoodianos. E a grande virada se deu na metade dos anos 50, quando Bass estava trabalhando em peças gráficas para o filme Carmen Jones.

Então, no meio do processo ele pensou, “por que não fazer isso se mexer?” E estava feito a mágica. O resultado você confere abaixo.

Olhando hoje em dia, com os recursos e tecnologia que temos, não é muito impressionante. Contudo, para a história do cinema foi um salto gigantesco. Não só tecnológico, mas na forma como os títulos passam a mensagem do filme.

Nessa sequência em questão temos a prevalência de cores quentes em tons vibrantes, indicando então um senso de paixão, ou ainda lúxuria. Temos além disso a presença de uma chama que mesmo queimando forte não consome a bela rosa no centro do quadro. Tudo isso casa com a trama de Carmen Jones, e pode mesmo adiantar conceitos presentes no longa.

Outros trabalhos

E ele não parou por aí. Afinal, sua próxima colaboração foi no ano seguinte com o diretor Otto Preminger, para o longa O Homem do Braço de Ouro. Confira o resultado abaixo.

O Homem com o Braço Dourado (1955)

Mas, Saul Bass não parou por aí continuou inovando em sequências disruptivas e colaborando com grandes diretores, como Alfred Hitchcock, Martin Scorsese e Stanley Kubrick. Utilizando então as mais diversas técnicas, desde de handmade à animação, usando fotos, texto ou elementos gráficos.

Influência

Essas obras tiveram então um grande impacto em Hollywood e no cinema como um todo. Afinal, os créditos deixaram de ser só um informativo acerca de questões legais e burocráticas dos filmes. Passaram então a ser espaços de experimento, e mais que isso, de definição da temática e estéticas das obras cinematográficas.

Impacto esse permanente e que atingiu não só o cinema, mas todas as esferas do audiovisual. Portanto, veja alguns exemplos a seguir.

Abertura de Cowboy Bebop
Créditos de abertura de “007 contra Goldfinger” (1964)
Lyric Video para a música “The Man” da cantora Taylor Swift
Abertura de Mad Men, série da AMC com sete temporadas
Sequência de título de “Clube da Luta” (199), do diretor David Fincher.

Todas essas produções, em maior ou menor grau, de maneira planejada ou não, bebem de uma forma ou de outra da fonte que teve origem com as obras de Saul Bass. Seja usando elementos gráficos, seja narrando a história da obra em sua abertura.

Em suma, foi assim que um designer baixinho conseguiu revolucionar um aspecto do cinema e produzir um impacto tão gigantesco que ainda hoje continua a influencias a forma como contamos histórias.

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