O que a publicidade e os quadrinhos têm em comum?

Capa do post - fundo de quadrinhos com uma placa de anuncie aqui na frente

O que a publicidade e os quadrinhos têm em comum? Resposta rápida anticlickbait: uma dupla de criação.

A publicidade antes de William “Bill” Bernbach era muito diferente. O comando criativo das campanhas ficava na mão de executivos engravatados que estavam mais preocupados em agradar aos clientes do que fazer uma boa propaganda. Você pode conferir um pouco mais sobre isso na série Mad Men.

O cenário era tão diferente  que os publicitários queriam transformar sua prática em uma verdadeira ciência dura, com regras e metodologias rígidas. Bill Bernbach foi contra tudo isso, ele acreditava na liberdade dos criadores e no apelo emocional do conceito criativo. Tanto que chegou a avisar seus contemporâneos sobre os perigos de uma publicidade “fria”.

“Eu alertei você sobre a crença de que a publicidade é uma ciência”.

Frase de Bill Bernbach.
Foto de Bill Bernbach sobre fundo azul.
Bill Bernbach, o pai da publicidade moderna.

Portanto, não à toa o Bill é considerado por muitos o pai da publicidade moderna. Mas existe outra contribuição ainda maior que ressoa até os dias de hoje. E que tem muito a ver com a forma como os quadrinhos são feitos desde sempre.

Como assim? Calma, eu explico.

Dupla de Criação

Como já dissemos e você pode conferir um relato mais ou menos fidedigno na série supracitada Mad Men (todos os episódios estão disponíveis na Netflix), a publicidade antes de Bernbach era negócio de engravatados, os criativos apenas cumpriam ordens. Contudo, ele revolucionou o mercado trazendo maior holofote a esse departamento tão importante.

Foi ele quem primeiro juntou a Direção de Arte com a Redação em único departamento, a Criação. Nesse novo departamento diretores de arte e redatores trabalhariam juntos teriam mais liberdade criativa para inovar e desenvolver uma campanha com mais apelo junto ao público alvo. Estava formada então a Dupla de Criação, algo resiste até os dias de hoje de maneira quase inalterada nas agências publicitárias do mundo todo.

Algo similar ao que os quadrinhos fazem há quase um século, portanto, algo que une a publicidade aos quadrinhos.

Por mais que ao falarmos de quadrinhos muita gente leve em consideração apenas, ou em um grau muito maior, a arte, essa mídia também é feita por uma dupla de criação.

Apesar de não haver um modelo único de roteiro para quadrinhos, tal qual acontece com a sétima arte, a figura do roteirista é muito importante. É ele quem pensa toda a estrutura da história, seja uma graphic novel com uma trama fechada, seja numa série mensal. E em seguida passa esse roteiro para o desenhista que vai criar os quadros propriamente ditos, em cima do que o roteirista pensou.

O que a publicidade e os quadrinhos têm em comum?
Um roteiro de HQ, com esboços para indicar ao desenhista a composição dos quadros de uma página.

Outras áreas

Claro que nos quadrinhos o trabalho dessa dupla de criação é só o começo da obra, afinal a história ainda passa pelas mãos do colorista, do letrista, do capista e vários outros profissionais, até chegar às mãos do editor que “fecha” o quadrinho e manda para impressão e venda. Mas na publicidade a dupla criativa é só o começo da confecção das peças publicitárias também. Dependendo do caso é preciso chamar um fotógrafo, uma equipe de audiovisual, um designer, até que a peça chegue ao veículo de exibição.

E em ambos os casos as funções não são exclusivas ou excludentes, o segredo para o sucesso é a cooperação. Tanto o roteirista de HQs conversa com seu desenhista para chegarem a melhor história, quanto o redator e o diretor de arte trocam figurinhas na hora de compor uma peça publicitária.

Enfim, eu só queria traçar esse paralelo que eu achei bem bacana e nunca ouvi ninguém falar sobre.

Para encerrar agradeço ao professor Karlan Muniz que exibiu o documentário Art & Copy durante as aulas. Foi aí que conheci a figura de Bill Bernbach e comecei a criar esse paralelo entre a publicidade e os quadrinhos na minha mente.

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