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Seria o Fantasma da Ópera o primeiro incel da Cultura Pop?

O Fantasma da Ópera 1943

Hoje em dia temos muitos incels. Contudo, seria o Fantasma da Ópera o primeiro personagem incel da Cultura Pop?

Incel, com certeza você já se deparou com algum deles, especialmente na internet, que parece ser o habitat deles. E se você é mulher com certeza já sofreu com algum deles.

Incel

Incel vem do inglês involuntary celibates e significa algo como celibatários involuntários, ou, em tradução mais livre, virjões por falta de opção. Mas não é apenas a falta de relacionamentos sexuais que definem esse grupo. A característica mais importante é a sua toxicidade.

São homens, geralmente adolescentes ou homens de meia idade que se recusam a crescer, que compartilham atitudes e falas machistas a respeito de não conseguirem um par romântico, apesar de todo o esforço que fazem.  Eu já falei um pouco deles num texto de análise do filme “Coringa.

Basicamente são rapazes que se julgam a régua moral da sociedade e julgam as mulheres por não quererem ficar com tão nobres homens. É quase como se a mulher fosse uma vending machine na qual o homem deposita carinho e um pouco de atenção e recebe em troca sexo.

O que gera reações e comentários extremamente vergonhosos na internet como “elas preferem os zé droguinha” ou “elas não querem os caras legais”. O que eles parecem esquecer é que as mulheres são seres humanos dotadas de poder de escolha e podem escolher com quem se relacionar. Além disso, se você só é legal com uma mulher para ter relações sexuais com ela, você não é tão legal quanto se julga.

Cultura Pop

Pensando sobre tudo, eu cheguei a uma conclusão inusitada, ou pelo menos me fiz um questionamento. Esse comportamento é reforçado pela nossa cultura? Bom, tudo parece indicar que sim.

Veja por exemplo os filmes clichês de comédia-romântica hollywoodianos. O protagonista é um cara legal, ele se apaixona pela mocinha, mas ela não quer nada com ele. Até o final do filme, onde ele faz um grande gesto romântico e à mocinha não resta alternativa a não ser se entregar aos sentimentos do nosso protagonista carismático.

Ou ainda, a mocinha até gosta do mocinho, mas ele vacilou legal. Porém tudo é concertado no terceiro ato, quando o mocinho realiza um gesto simbólico, – a corrida no aeroporto, uma grande serenata embaixo da janela, entre outros clichês – então a mocinha, num passe de mpagicas, esquece todas as mágoas e ambos vivem felizes para sempre. Ou pelo menos até a sequência, na qual o mocinho vai pisar na bola novamente.

Essas atitudes são no mínimo questionáveis se pararmos para pensar. Afinal toda a agência da personagem feminina é anulada após o gesto do protagonista, tornando-a somente uma figura passiva que responde aos avanços do homem. Ou seja, a moral parece, seja um cara insistente e uma hora a moça ira se apaixonar por você. E na vida real não é bem isso que acontece.

Fantasma da Ópera o primeiro incel?

Porém isso parece datar de muito tempo. Pelo menos foi isso que eu interpretei com a história de “O Fantasma da Ópera”.

Antes de começa minha análise, no entanto, gostaria de explicar que eu nunca li o clássico do autor francês Gaston Leroux. Portanto irei basear minha análise toda nas adaptações que eu já assisti dessa obra. Particularmente o filme de 1943, dirigido por  Arthur Lubin, com Claude Rains no papel-título. O filme faz parte do Universo Compartilhado de Monstros da Universal. Dito isso, prossigo com minha análise.

Após assistir ao filme de 43, divaguei comigo se Erik, o próprio Fantasma da Ópera, não seria ele mesmo o primeiro incel da cultura pop.

Na trama Erik começa como um simples violinista da Ópera de Paris, que possui uma estranha obsessão por uma das coristas, Christine. Chegando ao ponto de pagar secretamente aulas de canto para a moça, entre outros “favores” bizarros. Contudo, apesar desse sentimento latente, ele não consegue se aproximar da moça para expressar seus desejos, antes espera que ela adivinhe e desenvolva o mesmo sentimento por ele.

Veja se isso não é coisa de incel maluco. O cara que faz todos os favores para a moça e acredita que a retribuição lógica para isso é que ele caia de amores por ele. E ainda se julga o cara legal, em detrimento de todos os outros pretendentes que se aproximam da moça.

Spoilers

Aqui agora eu vou dar alguns spoilers, então se você não quiser recebê-los, pule esse parágrafo, por gentileza. Bem, eu avisei, vamos lá. Toda essa questão só fica mais creep quando Erik se transforma no Fantasma da Ópera. Momento no qual ele vai ameaçar a vida das rivais de sua amada, cometendo vários crimes, entre eles assassinatos, e, por fim, sequestra Christine. Afinal nada mais justo do que ele a possuir, uma vez que, fez de tudo por sua carreira não é mesmo?

Enfim, não estou aqui para bater o martelo, tampouco oferecer uma análise definitiva para essa obra. Gostaria apenas de oferecer essa interpretação que eu fiz assistindo ao filme recentemente.  E dizer para os garotos que me leem, esquece essa porcaria de cultura incel, isso não é vida.

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