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Como Enola Holmes subverte brilhantemente a figura clássica de Sherlock

No dia 23 de setembro desse ano a Netflix lançou seu mais novo filme de mistério e investigação detetivesca, Enola Holmes. Com roteiro de Jack Thorne e direção de Harry Bradbeer. O longa traz a atriz Millie Bobby Brown, queridinha da cultura pop por seu papel como Eleven em Stranger Things, no papel principal.

A adaptação Nancy Springer, “O caso do marquês desaparecido” – sim, a personagem não surgiu nas páginas de Sir Arthur Conan Doyle, mas numa fanfic da autora americana – consegue ao mesmo tempo apresentar uma nova personagem carismática, que para muitos já nasceu um clássico, e também desafiar e subverter as imagens do clássico detetive Sherlock e seu irmão Mycroft Holmes.

Sim, isso porque apesar do appeal que o maior detetive da história possa ter para nossos amigos incels, na prática Sherlock na vida real seria um pé no saco. Um caso similar ao que aconteceria se Hermione, da saga Harry Potter, existisse.

Afinal, ter um amigo que se acha um sabe tudo é muito chato. O pior ainda é quando esse sabe tudo realmente sabe tudo mesmo e você a contragosto tem que dar o braço a torcer.

Mas, à parte essas questões mais pessoais, o grande problema do detetive inglês é o fato de ele se aborrecer com as questões da vida política e social humanas, que ele considera “problemas menores”.  Como o fato de ele não se envolver em debates públicos, por mais impactantes que sejam, preferindo se focar em investigações que ele considera excitante.

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Esses traços podem parecer interessantes e até criar um espelhamento para os nerds incel da cultura pop que provavelmente você conhece muito bem. Sim aquele valentão de caixa de comentários. Que se julgam acima de tudo e todos e acreditam que toda tentativa de transformar o mundo em algo mais inclusivo seja puro mimimi. Na prática é só uma pessoa que se recusa a crescer e critica novos desenhos animados, por trocaram a etnia ou gênero de determinado personagem, esquecendo-se que ele não é o público alvo.

Porém Enola Holme não é para essas pessoas. Enola Holmes é para as pessoas que entenderam que o mundo mudou e é preciso sim se importar com representatividade e igualdade de gêneros.

Por isso a figura de um homem que não importa com as questões de bem estar comum não cabe mais nesse admirável mundo novo. Por isso que a figura de Sherlock Holmes é questionada e muito bem, diga-se de passagem, na fala da personagem Edith Grayston (Susie Wokoma) quando esta diz que:

“Você [Sherlock Holmes] não se interessa em mudar um mundo que o privilegia!”

Parafraseando a fala da personagem Edith Grayston de Enola Holmes, Netflix (2020).

E é bem isso. Sherlock Holmes só pode ser o maior detetive do mundo porque é homem branco e rico. Ele não precisa se preocupar em ter que lutar para sobreviver. Para conseguir comida. Para não ser vendido como mercadoria em um casamento arranjado ou de ser morto pela cor de sua pele ou o gênero da pessoa amada.

Enfim, não estou falando que Sherlock é um personagem ruim. Nem tampouco afirmando que Enola é uma personagem superior, apesar de superar um desafio maior que seu irmão mais velho. Porém é inegável que há problemas com o detetive e com os novos ventos era questão de questão de tempo até sua figura ser revisitada e questionada. Times are changing!

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