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Coringa: tóxico, irresponsável e perigoso. É isso mesmo!

Sim, o filme de Todd Philips apresenta uma característica imprescindível do Coringa: ele é tóxico. E isso é uma coisa boa.

O filme do Coringa, dirigido por Todd Philips e estrelado Joaquin Phoenix, ainda nem estreou e já problematizaram o longa. Mesmo tendo conquistado o prêmio máximo no Festival de Veneza, o Leão de Ouro, a obra centrada no palhaço do crime foi duramente criticada por críticos, que rotularam Coringa como tóxico, irresponsável e perigoso.

O argumento até que faz sentido. Os críticos afirmam que o longa glamouriza a mentalidade incel do protagonista. Agora é a hora que você me pergunta: “o que diabos é incel?” Eu explico.

Incel

Incel (“celibatário involuntário” em tradução livre) é aquela ideia batida que muitos garotos tem de culpar as mulheres pela sua incapacidade em conseguir ou manter um relacionamento romântico ou sexual. Frases como “elas preferem os zé droguinha” ou “elas não querem os caras legais” e ainda “friendzone” são extremamente comuns a esse grupo.

Esse pensamento tem raiz em uma cultura extremamente machista e, por vezes, até misógina. A linha de raciocínio é a de que se o homem for legal com a mulher, mesmo que raras vezes e com o único intuito de ter relações sexuais com ela, e ela se recusar a ceder a suas iniciativas românticas, a moça está sendo insensível. É quase como se a mulher fosse uma vending machine na qual o homem deposita carinho e um pouco de atenção e recebe em troca sexo.

Em casos mais extremos, essa mentalidade leva a ações problemáticas, chegando a violência e mesmo atentados com armas de fogo. Visto que geralmente essas situações estão ligadas ao bullying. O que legitimaria o fato dessas “vítimas” da sociedade tentarem fazer justiça com as próprias mãos, na tentativa de corrigir esse mundo todo errado na base da violência.

É algo extremamente horrível e deve ser combatido. Afinal, ainda que algumas mulheres se relacionem com homens ruins, elas tem a liberdade de escolher com quem vão ou não ter um relacionamento.

E é justamente aí que mora o problema com o novo filme do vilão de Gotham City. De acordo com alguns membros da mídia, o longa abordaria essa temática com bons olhos, uma vez que tenta criar empatia entre o público e o perturbado protagonista.

Como expressa paradigmaticamente Stephanie Zacharek: “Coringa oferece o primeiro herói popular da cultura incel”.

Coringa Incel?

Mas, porém, contudo e entretanto, Coringa não me parece que vai exatamente nesse rumo. No entanto vou dar o braço a torcer nesse, pois tudo que vi da obra foram os trailers liberados.

Todavia, acredito que o que o longa tenta fazer é propor um questionamento mais do que justificar as ações de Arthur Fleck. Explicando a origem do Coringa, o diretor pode mostrar as consequências de nossas ações e interações cada vez mais vazias de significado.

E é como disse o filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella, em entrevista ao programa Saia Justa da GNT, explicar não é justificar. Respondendo a um questionamento acerca da ética, Cortella defende que “justificar significa tornar justo”. Ele ainda complementa dizendo que “o que é justo é aquilo que a gente entende como correto. A explicação é a capacidade de dar racionalidade a uma situação.”

Ou seja, por mais que Coringa explique a origem do vilão como alguém que foi extremamente marginalizado e violentado pela sociedade, a obra não pode em momento algum justificar as atrocidades cometidas pelo personagem principal.

Portanto dizer que ao criar empatia com o protagonista o filme legitima ou glamouriza atos indefensáveis é uma má interpretação. Pelo menos essa é a minha visão atual.

Ou seja, o Coringa apresentado é tóxico, irresponsável e perigoso. Mas isso faz sentido dentro da história. E explicar sua origem, não é justificar seus atos.

Mas e aí, tem algo a acrescentar? Sugestão? Concordâncias? Discordâncias? Críticas construtivas e bem educadas são sempre muito bem vindas. Então sinta-se livre para se expressar, com respeito, nos comentários.

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