O mundo nerd é direita? Don’t Panic! Não é tão simples assim.
Primeiramente precisamos compreender que o termo “nerd” ganhou amplitude e ressignificações ao longo do tempo. Por muito tempo ser nerd poderia ser considerado como sinônimo de preferências contra hegemônicas, em oposição ao que seria pop. Grupos considerados outsiders. Ou seja, os nerds eram aqueles que não se encaixavam no meio social ao seu redor, sofrendo diversos tipos de violência por causa disso, os famosos bullying. Não sei vocês, mas eu, nerd dos anos 1990 e já com influências socialistas procurava ver a mim e meus colegas dessa maneira.
Ingenuidade, é claro. Amadurecendo nossa compreensão social do mundo percebemos que, na verdade, basicamente o que unificava esse grupo de pessoas consideradas nerds sempre foi os produtos da sociedade capitalista. Os outsiders eram consumidores de valores capitalistas tanto quanto os consumidores do universo pop. Para piorar, a violência em forma de bullying (que de fato existia e existe), criou uma cultura de vítima para parte deste grupo, mas que não enxergava as opressões sociais do sistema como um todo. Ou seja, os nerds tenderam a se tornar misóginos e racistas. Na fantasia de proteção que criaram, somente eles, mais inteligentes que os demais compreendem o mundo, apesar de não se encaixarem nele por diversos motivos, entre eles seus atributos físicos. Hoje denominamos parte dessas pessoas como incels.
Então é isto. O universo nerd jamais foi um ambiente de resistência anticapitalista e, com a ascensão do neofascismo dos últimos anos, surge o “nerdola” que é, basicamente, o nerd da direita e extrema direita. Mas calmem, nem tudo está perdido. O nerdola, homem branco, de classe média ou alta, que sempre se enxergou entre os seus iguais está desesperado com a diversidade. Mulheres, negros, pobres estão adentrando no mundo nerd, o tomando de assalto e obrigando que suas vozes sejam ouvidas.
De meados dos anos 2000 para cá o mundo nerd ganhou ares de hegemonia e se aproximou do restante do universo da cultura pop. Isso popularizou o que é ser nerd atingindo pessoas que antes não eram atingidas. E essas pessoas são diversas. A incorporação de grandes marcas do mundo nerd (como HQs e jogos) de questões relacionadas às identidades de gênero, ao racismo à xenofobia etc não é um movimento voluntário e caridoso. O mercado corre atrás para incorporar em suas fileiras as vozes que por tanto tempo foram silenciadas, mas que agora se fazem ouvir. E se o nerdola está triste com isso, nós estamos felizes.
O mundo nerd é parte da sociedade. Como foi dito, cada vez mais amplo e diversificado. Nós socialistas estamos dispostos a disputar esta sociedade, certo? Então vamos disputar o mundo nerd! Ninguém está dizendo que esta é a luta prioritária, ou que devemos ficar somente na militância de internet. Estamos falando que precisamos travar a luta por um futuro mais humano e justo em todos os lugares. O Nerd Socialista é um espaço para aglutinar todas e todos aqueles que desejam esse mundo. Vamos pautar nossas bandeiras, dialogar e lutar para que o mundo nerd seja um mundo para todos, sem preconceito e com consciência de classe. Se a luta não se trava exclusivamente no campo cultural, tampouco podemos esquecê-lo.
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