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Personagens que são uma sátira aos fascistas, mas os fascistas adoram

Já percebeu que alguns personagens surgiram para ser uma sátira aos fascistas, mas foram tão bem feitos que os fascistas acabaram por amar esses personagens? Ou talvez eles só sejam bem burros e não conseguiram entender a crítica.

O esteriótipo está lá, um personagem, geralmente homem branco heterossexual, que foi prejudicado de alguma forma, ou perdeu alguém, e agora culpa a sociedade toda por si. Geralmente está infeliz com os rumos que a civilização tomou e julga a todos como imoral, considerando a si mesmo como salvador de um tempo melhor, mais simples. Geralmente também resolve tudo com violência.

Os quadrinhos estão repletos desses personagens bombados e com poucas linhas de diálogo. Mas, algumas vezes um quadrinista brilhante utiliza desse estereótipo para rir ou até mesmo criticar esses mesmos personagens. São os que eu considera uma sátira justamente a esses fascistas da vida real.

Contudo, muitas vezes um personagem surge justamente como uma sátira a esses ideais moralistas e preconceituosos, no entanto muitos leitores não conseguem passar da camada mais superficial e entendem o personagem ou a história de maneira literal. O pior é quando pessoas preconceituosas não entendem as críticas e acabam abraçando tais personagens como símbolo.

E o que não falta é nerd usando camiseta desses personagens na ruas, ou imagens deles como avatar nas redes sociais, sem entender que na verdade trata-se de uma crítica, ou no mínimo uma sátira. Geralmente são pessoas “polêmicas” que gostam de causar, mas geralmente só passam vergonha mesmo.

Se você ainda não entendeu sobre o que eu estou falando, calma. Eu vou listar alguns exemplos aqui de personagens que no meu entender surgiram para ser uma sátira aos fascistas. Acho que assim vai ficar mais fácil de você entender.

CAPITÃO PÁTRIA

Capitão Pátria, ou Homelander no original, é uma criação das mentes um tanto perturbadas de Garth Ennis e Darick Robertson para a história em quadrinhos The Boys, e ganhou ainda mais destaque com a série homônima da Amazon Prime Video, desenvolvida por Eric Kripke.

O personagem é uma sátira do Superman, caso o último filho de krypton fosse um retrato real do sonho americano, um grandessíssimo filho da p*#@ sadístico. Tanto é que na adaptação ele se envolve com o pior tipo de ser humano, o que legitima seu preconceito com memes e piadas de internet. Não a toa o personagem foi escolhido por Stormfront, uma nazista de verdade, como símbolo de tudo que ela acredita ser o mais puro. Aplausos para a produção do show que conseguiu deixá-lo ainda pior que nos quadrinhos, embora muito mais crível.

O pior é que possível imaginar pessoas e até mesmo figuras públicas e políticas importantes sendo tão horríveis quanto o “super” caso ganhassem algum super poder. E o que não falta é gente idolatrando o personagem. O que não deveria empastar ninguém, visto que há pessoas que idolatram tantos mitos e falsos Messias por aí.

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JUIZ DREDD

Juiz Dredd é um personagem criado no Reino Unido por John Wagner e Carlos Ezquerra em 1977, para a revista “2000 AD“. Dredd é o juiz mais famosos de Megacity, cidade pós apocalíptica, onde os juízes servem de juiz, júri e executores, aplicando as lei na base da violência. O presonagem já ganhou as telonas em uma adaptação com Karl Urban, que também está na já citada The Boys.

Dredd é uma clara crítica a violência urbana e ao direito penal, que não consegue resolver o problema da criminalidade, deixando apenas as cadeias mais cheias e as cidades mais violentas. É também uma crítica aos juízes e aplicadores da lei, que se tornam frios e distantes das camadas mais pobres da sociedade, geralmente as mais atingidas pela violência, seja ela legal (a que provém do Estado) ou não.

Mas é, infelizmente, mais um caso de personagem criado como uma sátira aos fascistas, que foi apropriado por pessoas com discurso raso de que “bandido bom é bandido morto”.

COMEDIANTE

Em 1986, Alan Moore e Dave Gibbons agraciaram ao mundo com a brilhante HQ Watchmen. Uma história com roteiro incrível e arte maravilhosa. Tudo isso costurado com críticas ferrenhas ao maistream dos quadrinhos americanos, política e tudo mais que poderia vir da mente anárquica do mago inglês.

Uma das peças centrais da trama é o super herói Comediante, que nas palavras de Rorschach, outro personagem do quadrinhos que falaremos mais pra frente, “decidiu se tornar uma sátira da sociedade”.

Em suma é exatamente isso que o personagem, uma caricatura do “american way”. Um misógino, inconsequente e que não liga para as consequências de suas ações, não importa o quanto isso machuque outras pessoas. Tudo isso fantasiado de discurso cômico. Lembrou de algum comediante da vida real? Pois é, qualquer semelhança não é mera coincidência!

CAPITÃO NASCIMENTO

Agora um personagem nacional, para não dizer que somos colonizados e só falamos dos fascistas de primeiro mundo. Roberto Nascimento é o famoso capitão do BOPE vivido pelo brilhante Wagner Moura em Tropa de Elite, filme brasileiro dirigido por José Padilha.

O filme todo é uma crítica a violência policial e ao precário e corrupto sistema penal do Brasil. Em especial da cidade do Rio de Janeiro. O Capitão Nascimento em particular é um olhar sobre como a violência, tanto a urbana quanto a da corporação, afeta o policial e o transforma numa máquina de matar e num ser humano quebrado. Tanto que o filme não o coloca em momento algum como uma figura heroica. Antes trata de humanizá-lo para que o espectador possa entender como ele chegou até ali.

Contudo, ele também é usado como exemplo pelos falsos moralistas e conservadores que acreditam, ou ao menos pregam, que o problema da violência se resolve com tiro, porrada e bomba.

RORSCHACH

Falando novamente na obra seminal de Alan Moore e Dave Gibbons, vamos citar talvez o caso mais paradigmático de personagens que são uma sátira aos fascistas, mas passaram a ser idolatrado por eles.

É sabido que Alan Moore se inspirou no personagens da Charlton Comics, o Rorschach em específico foi inspirado no detetive Questão. Contudo, Moore não queria prestar uma homenagem aos personagens estilo Batman. Antes ele queria mostrar que na vida real eles são verdadeiros fascista e psicopatas. Ao mesmo tempo causa e consequência da sociedade doente que eles buscam corrigir com sua moral maniqueísta inflexível e seus métodos brutais.

O próprio Moore chegou a afirmar que o Batman no mundo real seria uma pessoa, digamos, desequilibrada psicologicamente. E que Rorschach não é alguém para se inspirar.

Não sei se vocês entenderam. Mas se você acha correto e idolatra um personagem que o próprio criador diz se tratar de um fascista psicopata isso diz muito sobre você. Não é a toa que na série da HBO, produzida por Damon Lindelof, o vigilante deu origem a uma seita de supremacistas branco. E isso definitivamente é totalmente coerente.

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Eu sei que essa lista pode não se tornar uma das mais populares nos debates nerds, mas achei importante escreva-la mesmo assim. Espero que alguém em algum lugar possa reavaliar seus conceitos, afinal somos todos imperfeitos aprendendo a cada dia. Mas, se você vai me xingar dizendo que eu defendo bandido. Ou que quando eu for assaltado eu deveria chamar o Batman, nem perca seu tempo. Afinal, eu também acho o Batman um tanto fascista.

Afinal um ricaço que passa suas noite vestido de morcego e batendo em criminosos, enquanto defende a política neoliberal que transforma pobres em miseráveis desesperados, não é uma pessoa muito legal eu diria.

Um abraço e até a próxima!

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