Produzir qualquer obra da Cultura Pop é sempre um tarefa hercúlia, ainda mais quando se trata de uma grande produção como é o caso de filmes da DC e Marvel e afins. Mas existe algo ainda mais complicado, que é equilibrar entre a opinião pública x público alvo dessas obras.
Ainda mais em tempos de internet, no qual vivemos a era da pós-verdade. Época onde não há verdade absoluta, mas há várias maneiras de se estar errado. Afinal, não importa o que você faça, sempre vai desagradar alguém, que vai xingar muito no Twitter.
E isso nós vemos cada vez conforme os filmes baseados em obras populares, como quadrinhos, livros e jogos, vão se avolumando. Pois, na hora de produzir essas obras várias é preciso tomar diversas decisões importantes.
Filmes de Heróis
Tomemos como exemplo o caso dos filmes de heróis inspirados em quadrinhos clássicos. A maioria dessas HQs foi escrita há décadas atrás, quando ainda não se havia muita preocupação com pautas que hoje são consideradas de extrema importância. Portanto, adaptar essas histórias para o cinema ou TV acaba sendo uma tarefa complicada.
Uma vez que, se você pensar no fã mais hardcore dessas obras, você deve buscar fidelidade acima de tudo. Nesse caso, a produção pode optar por adaptar tudo ipsis litteris. Visual, personagens, diálogos, etc.
Às vezes dá certo e o filme é aclamado pelos fãs e faz sucesso comercial. Como é o caso dos filmes 300 e Watchmen, ambos dirigidos por Zack Snyder. Ambos os citados são traduções literais de suas contrapartes dos quadrinhos.
Contudo, nem sempre isso é possível. Seja porque visualmente ficaria estranho, seja porque se transportados para as telas, alguns aspectos ficam descoladas e até anacrônicas. No primeiro caso, podemos citar o mais recente filme do Thor como exemplo paradigmático. Muitos fãs ficaram decepcionados, pois o visual do vilão Gorr, vivido por Christian Bale, ficou bem diferente dos quadrinhos. Contudo, sejamos sinceros, aquele visual dos quadrinhos seria bem difícil de adaptar sem ficar galhofa demais. Ainda mais se levarmos em consideração a intenção dramática que o diretor Taika Watiti quis dar ao personagem.
Agora, existem questões mais sérias na hora de se adaptar um quadrinho. Especialmente os vindos dos anos 50 e 60. Afinal, esse foi um período complicado dos quadrinhos.
Nesses quadrinhos os personagens são majoritariamente homens, brancos héteros. E, na maioria das vezes, tem atitudes machistas, racistas e LGBTfóbicos. Ou seja, em grande parte, esses quadrinhos eram problemáticos, para dizer o mínimo. Então, obviamente, é necessário fazer vários ajustes.
Alterar diálogos, inserir mais diversidade no casting, ou até mesmo fazer mudanças drásticas na trama são algumas das decisões difíceis, mas que devem ser tomadas. Pode até desagradar os fãs, mas não fazer seria condenar o filme de antemão no tribunal da opinião pública. E, falando como alguém que já trabalha com marketing há algum tempo, isso é algo que ninguém quer.
Opinião Pública x Público Alvo
Sim, muitos fãs reclamam dessa reparação histórica, ou simplesmente adequação aos novos tempos, mas tudo isso é apenas decisão comercial.
Afinal, antes de ser uma obra da cultura pop, todo filme é um produto e precisa ser vendido. Portanto, a produção, que é quem banca o filme e quer colher os lucros, decide por aquilo que é mais rentável. Se os fãs formarem uma quantidade tão grande que vai garantir o lucro, então a produção atende aos seus desejos e mantém o mais fiel possível.
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Contudo, como esse quase nunca é o caso, é preciso agradar ao público em geral, ou seja quem não necessariamente é fã da obra original. Então trata-se de agradar a opinião pública. Pois, nenhum empresa quer ter sua marca vinculada a polêmicas, especialmente em tempos de rede social, onde tudo vira polêmica.
Mas, então, qual a saída para a questão Opinião Pública x Público Alvo? Não há uma resposta exata pra isso. No entanto, a materialidade parece mostrar que se sai melhor quem equilibra esses dois polos, aparentemente extremos e antagônicos.