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O Paradoxo do Bojack

O Paradoxo do Bojack | InduTalks

Talvez, você tenha caído de paraquedas aqui e clicou só porque o título é curioso. Mas, calma, eu explico o que eu chamo de Paradoxo do Bojack.

Bojack Horseman é uma série animada da Netflix que trata de assuntos pesados e polêmicos, entretanto, muito presentes em nossa sociedade. Temas como aborto, abuso de drogas e outras substâncias, machismo e a plasticidade da vida em “Hollywoo” são discutidos de maneira adulta sem perder o bom humor.

Mas, talvez, o tema principal da atração seja a depressão que assombra o personagem principal, um cavalo antropomórfico que já foi o astro de uma sitcom nos anos 90. Apesar de ser uma animação que tende para a comédia, o show consegue trabalhar essa temática tão delicada de maneira séria e mais responsável que muitos dramas e superproduções contemporâneas.

Um exemplo claro disso é o episódio 06 (seis) da quarta temporada. Logo na abertura do episódio a série nos apresenta um quadro extremamente verossímil do que é conviver com essa doença. E em uma ótima linha de diálogo o protagonista da atração nos entrega o que pode ser chamado de “O Paradoxo de Bojack.”

“Você é um belo de um merda!” – Diz o protagonista a si mesmo. – “Mas eu sei que eu sou um merda. Isso me faz melhor que os outros merdas que não sabem que são uns merdas. Ou é pior?”

Adaptado de Bojack Horseman 04×06 – “Stupid Piece of Sh*t” (Netflix)

Eu não sei para quantas pessoas isso faz sentido, mas eu consigo me relacionar muito bem com Bojack nesse sentido.

Em muitos dias quando a dor e o vazio são tão grandes que você não consegue nem levantar da cama, ou nos dias completamente improdutivos, ou quando você chora sem nenhum motivo aparente e se pergunta “por que estou chorando?”, nesses momentos você olha para si mesmo e se sente um belo de um merda.

Você olha para o espelho e e contempla o quão merda você é. Mas, toda a humanidade não é igual? Você é só mais um na multidão. E, ao menos, você, diferente da grande maioria, tem consciência disso.

Esse pensamento meio que te salva. Como uma mão amiga começa a te puxar do fundo do poço. Você é melhor que eles. Eles fingem que são felizes, se agarram a esperanças tolas, tentam seguir suas vidas normalmente como se existisse algo como uma vida normal. Você não! Você reconheceu o quão patético e quebrado você é. Desistiu das ilusões e reconheceu a própria pequenez. Assentado solitário apenas observando o pacato rebanho que te rodeia.

Porém, como que num plot-twist cruel de um filme de suspense B, esse pensamento se volta contra você. Não tens que sentir orgulho dessa sua condição, não és melhor que os outros. Pelo contrário, és pior! Eles pelo menos não ignorantes, alheios à própria mediocridade. Já você não. Você tem a consciência de ser um bosta e não faz nada a respeito. Você é pior!

Assim, o que antes lhe servia como mão amiga, te puxando para fora do poço, aproveita que estás alto o bastante para te arremessar de volta ladeira abaixo. Então você se encontra novamente sozinho, agora pior que antes, mais machucado, chorando, pronto para recomeçar o ciclo auto-destrutivo de culpa.

Bem, é isso que eu chamo de Paradoxo de Bojack. E é por diálogos como o aqui exposto que eu considero esta uma das melhores séries da atualidade. Enfim, termino o texto sem saber o que pretendia ao iniciá-lo, creio, porém, que se conseguir fazer você que está lendo sentir um pouco mais de empatia para aqueles que lutam dia-a-dia contra a depressão já atingi meu objetivo.

Paz,
@valdirzera

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