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É possível separar autor da obra?

Esse questionamento não é novo, mas hoje nós vamos entrar na treta de saber se é possível separar autor da obra ou não.

No mundo pós-moderno onde tudo que era sólido se torna cada vez mais líquido, surge um novo fenômeno, a pós-verdade. Com a democratização do acesso a internet – que por si só é uma coisa boa – todo mundo tem direito a opinião e pode expressá-la num clique. Portanto, a verdade passa a ser questão de opinião.
Pouco me importa o que a ciência (seja ela natural, exata ou humana) diz. O que vale é a minha verdade, o que é verdadeiro segundo a régua do meu entendimento. Surge nesse contexto ainda um outro fenômeno social, a cultura do cancelamento.

Cultura do Cancelamento

Se alguém fala algo que eu não concordo é cancelado, linchado virtualmente, o que normalmente tem reflexos negativos na vida offline. Além disso, quando uma figura pública comete um erro, a repercussão é ainda maior.
O alvo mais recente é Chris Pratt, o Senhor da Estrelas no Universo Cinematográfico da Marvel. Além dele, outra que tem sido alvo de críticas na internet é a atriz Gal Gadot. A estrela aceitou viver a Cleópatra nos cinemas e vem sendo acusada de whitewashing. Não vamos entrar nessa seara aqui, uma vez que não cheguei a pesquisar o suficiente para gerar uma opinião que sustente um debate desse porte.

Chris Pratt e Gal Gadot duas celebridades que ficaram recentemente sob os holofotes da cultura do cancelamento.

Mas, e quando a celebridade é uma pessoa verdadeiramente ruim, mas é um artista incrível? E aqui eu não me refiro a erros honestos, como quando um ator acaba reproduzindo um comportamento machista irrefletido. Mas sim quando o artista ou a artista é uma pessoa horrível, escrota, porém, em outra mão realiza obras de artes impressionantes.

Hollywood

Exemplos não faltam, ainda mais se levarmos em conta a indústria cinematográfica em Hollywood. Uma indústria calcada em homofobia, machismo, racismo e xenofobia, mas que por outro lado presentou a humanidade muitas vezes com obras primas da sétima arte.

O caso mais paradigmático talvez seja o do produtor Harvey Weinstein, produtor de grandes clássicos do cinema, como Pulp Fiction (1994) e Shakespeare Apaixonado (1998), que inclusive lhe rendeu um Oscar. Contudo, em 2017 muitas mulheres da indústria foram a público revelar que o produtor era assediador e estuprador, tendo assediado e abusado de diversas profissionais.
As acusações repercutiram tanto que surgiu em Hollywood o movimento #MeeToo e muitos produtores e executivos do cinema acusados de abuso sexual foram demitidos.

Harvey Weinstein, produtor estadunidense condenado por abuso e estupro. Fato que culminou na criação do movimento #MeeToo

Nerds

O exemplo mais próximo dos nerds talvez seja o caso do ator Ray Fisher contra os produtores de Liga da Justiça, aquele espantalho que vimos nos cinema. O ator acusa o diretor Joss Whedon, os produtores Geoff Johns e Jon Berg, e até o presidente da Warner de assediar moral e sexualmente atores e atrizes e de serem racistas.

Esses são dois casos paradigmáticos, mas exemplos não faltam. Kevin Spacey, Woody Allen, James Franco, Johnny Depp, Sean Penn. Todos muito talentosos e que, cada um a sua maneira, contribuíram para a sétima arte. Contudo, todos tiveram condutas que não podem e não devem ser aprovadas socialmente.

Mas e aí, como proceder? É possível separar autor da obra? Ou muito pelo contrário, devemos desconsiderar todos os trabalhos e relegá-los ao ostracismo. Confesso que eu não tenho uma resposta para isso. Esse textão todo foi mais para compartilhar essa minha aflição com vocês, caros leitores.

Para encerrar esse artigo que já ficou enorme, gostaria de explicar que esse não é um acontecimento exclusivo de Hollywood. Pessoas tóxicas estão presentes em todas as áreas da sociedade e as artes não seriam exceção. Vale lembrar que H.P. Lovecraft, pai do horror cósmico, era um racista extremo e isso repercutiu em suas obras literárias. E, mais recentemente, J. K. Rowling, criadora do universo de Harry Potter, vem sendo acusada de transfobia.

Filosofia

Mas isso passa até mesmo pela Filosofia, uma vez que Heidegger, autor extremamente estudado hoje em dia nas escolas de Filosofia, filiou-se ao partido nazista e trabalhou como reitor em Friburgo durante o regime do terceiro Heich.

Enfim essa é uma polêmica de separar autor da obra é difícil de chegarmos a uma conclusão. E eu tão pouco pretendo esgotar esse assunto em um artigo de internet, afinal seria pretensão da minha parte. E se tem uma coisa que eu sou é despretensioso. Humildade acima de todos!

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