Manifesto em defesa do clichê

É exatamente isso que você leu, caro leitor. Esse post será um longo texto que nada mais é do que um manifesto em defesa do clichê.

Recentemente entre em uma pequena discussão filosófica com minha namorada. Ele me culpou de não gostar dos filmes que ela escolhe para assistirmos juntos por considerá-los muito clichês. Porém, em sua defesa, ela afirmou que eu assisto Naruto que, segundo ela, é extremamente clichê.

Veja bem, a história começou porque eu estava explicando a ela sobre o episódio em que Naruto encontra sua mãe pela primeira vez, e ela conta sobre como conheceu seu pai e ambos se apaixonaram. Aí então veio a acusação de eu criticar clichês e gostar de um anime que abusa desses artifícios de roteiro.

Não é que eu ache que ela está me acusando injustamente. É bem verdade que eu critico as inúmeras comédias românticas que assistimos juntos. Mas sejamos francos, como não criticar um filme que cria personagens estereotipados, com tramas tão rasas que são resolvidas com um “e foram felizes para sempre” ou coisa do gênero?

No entanto, o problema não está no clichê em si. É a forma de uso desse recurso narrativo. Clichês funcionam, basta saber usá-los.

Nós temos o costume de julgar algo que consideramos clichês porque achamos que é uma ideia batida, nada inovadora. Contudo, todo clichê teve uma origem, algum momento de criação por uma pessoa ou comunidade, de maneira consciente ou não.

Além do mais, uma ideia super inovadora para uns, pode ser super simples e manjada para outros.

Sem contar que os clichês surgem de conceitos comuns a vida humana, quase que universais. Isto é, o clichê do garoto encontra garota e eles se apaixonam, reflete a busca humana por encontrar um parceiro ou uma parceira romântica. Algo que é inerente a maioria das pessoas.

Ou seja, os clichês existem porque funcionam. Porque refletem desejos e necessidades humanas. Mas em algum momento esses recursos acabaram perdendo seu sentido e ficando cansativos de pelo uso exagerado.

A história do herói relutante, que aceita seu destino e passa por grandes provações é um dos maiores clichês, tanto da literatura quanto do cinema. Porém isso não impede de filmes como Star Wars, Senhor dos Anéis e Matrix, por exemplo, de serem bons.

É justamente o uso do clichê, os elementos acrescidos a ele, o pano de fundo da história, tudo isso faz com que a trama seja interessante. Por isso que adoramos viajar pela Terra Média com Frodo e companhia, e torcemos por Luke e sua Aliança Rebelde.

E é justamente por isso também, que apenas usar o clichê como um artificio de roteiro pronto é ruim. Pois quando não há desenvolvimento de personagem, ou a história é a mesma que centenas de outras e só mudam os personagens, a trama acaba parecendo preguiçosa. É nesse ponto que reside a minha crítica. Afinal, a maioria das comédias românticas segue essa regra. Os personagens são reflexos distorcidos de um arquétipo fraco, o enredo é previsível e não apresenta nenhuma novidade.

Nesse ponto o clichê é só a cereja do bolo podre, que me faz torcer o nariz.

Mas, enfim, essa era minha divagação do dia, um manifesto em defesa do clichê. Afinal, o clichê não é bom ou ruim por si, é a forma como é utilizado. Por isso Naruto pode ser clichê que eu continuarei assistindo.