Os filmes são a sétima arte, pois misturam elementos de outras artes. E é por isso que alguns conseguem contar histórias sem usar palavras.
Com o advento dessa pandemia do novo corona vírus os filmes sobre doenças e epidemias vem ganhando cada vez mais destaque. Como a humanidade é peculiar, não?
Um desses filmes que vem ganhando destaque é o longa Contágio, de 2011. O filme do diretor Steven Soderbergh conta a trajetória de uma comunidade de médicos ao redor do mundo tentando conter uma epidemia que se espalha e mata muito rapidamente.
Como esse filme está muito em voga, já existem centenas de análises da obras pela internet a fora. Ou seja, diversos textos já foram feitas analisando os aspectos de roteiro, atuações e tudo mais.
Portanto, aqui vamos analisar um aspecto um pouco mais técnico, a cinematografia do filme. Ou melhor uma parte da cinematografia, a escolha de ângulos e posição da câmera em algumas cenas. E como isso ajuda a contar a história.
Contágio: Como contar histórias sem palavras
Talvez por o filme tratar de um tema tão difícil como uma epidemia de uma doença provocada por um vírus e trazer muito conceitos teóricos da medicina, a obra utiliza de algumas ferramentas narrativas que não são necessariamente diálogos expositivos para avançar a trama.
O filme utiliza de closes e planos detalhes para contar como os pacientes adquiriram o vírus, como eles espalharam e como os sintomas se manifestaram até levar tais pacientes a morte.
Mesmo usando planos mais abertos, o filme consegue passar uma sensação de ritmo sem usar diálogos ou mesmo falas. Usando sequências quase que contínuas, muito bem casadas com a trilha sonora, o longa consegue nos transmitir a sensação de corrida contra o tempo que a comunidade médica se encontra para achar uma cura para o vírus antes que ele mate mais pessoas.
As cores também ajudam a contar a história. Por exemplo quando a Dra. Erin Mears, vivida pela talentosíssima Kate Winslet, apresenta sintomas e se auto diagnostica. O cenário é predominantemente azul nessa cena, os tons são todos frios, passando justamente essa tristeza e sensação de desespero que a cena quer transmitir.
Ou seja, o filme utiliza muitos artifícios técnicos e artísticos para contar a história e fazer a trama avançar. Deixando os diálogos para trechos mais específicos onde seria muito dificil mostrar para o público leigo de maneira visual.
Diálogos expositivos
Como quando os médicos estão sequenciando o genoma do vírus. Se só nos fosse mostrado os médicos observando as cadeias genéticas na tela do computador, talvez, muitos de nós entenderíamos que eles estão trabalhando em alguma coisa médica. Alguns mais entendidos identificaram que se trata de uma cadeia genética, mas no geral o público iria identificar apenas uma cena com médicos na frente do computador.
Nessa cena em questão talvez fosse necessário o dialogo mais expositivo. Onde os personagens estão explicando para o público mesmo o que estão fazendo e a importância do que estão fazendo.
A produção entendeu isso de uma maneira brilhante. Eles viram que o filme ia precisar de diálogos expositivos para funcionar, mas esse é um recurso que satura muito rápido. Então eles deram um jeito de contar ao espectador a história do filme sem necessariamente usar palavras. E o resultado é bem consistente.
Portanto, para além do fato curioso de ter previsto o cenário atual de epidemia global, o filme é uma lição para todos que anseiam fazer cinema, e produzir cinema de qualidade. Uma lição de como contar boas histórias usando ângulos, planos e cores.
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