Como o Expressionismo Alemão foi cooptado por Hollywood para a criação do cinema de terror

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O Expressionismo Alemão foi um importante movimento artístico de vanguarda, que nos presentou com grandes obras primas do cinema. Contudo, anos mais tarde esse movimento seria cooptado pela indústria cultural e perderia toda a sua aura, gerando produtos de entretenimento em massa, com maior ou menor qualidade.

O Expressionismo Alemão

O expressionismo alemão é um movimento artístico vanguardista que surgiu, como o nome sugere, na Alemanha no período entre guerra. Nesse período o país encontrava-se devastado pela derrota na Primeira Guerra Mundial, com sua economia em frangalhos e assistindo a um sentimento anti-alemão crescente na Europa.

Portanto os artistas buscavam uma forma de criar uma identidade para o povo alemão, ao mesmo tempo em que refletiam seu momento histórico e social. Nesse contexto surge o Expressionismo, primeiramente na arte na pintura, com artistas como Franz Marc, Ernst Ludwig Kirchner e Edvard Munch, autor do mais famoso quadro do movimento, O Grito. Posteriormente esse movimento foi levado para o cinema, ainda durante os anos 1920, período em que os filmes ainda eram mudos.

Nesse momento o expressionismo ganhou não apenas o status de arte vanguardista nacional, – alguns autores chegam a defender que o nome expressionismo surgiu como uma forma de se contrapor ao Impressionismo Francês – mas de indústria. Surge aí a UFA (Universum Film Aktien Gesellschaft ou Universum Film AG), que já existia e funcionava como companhia estatal de propaganda durante a Primeira Guerra Mundial, mas agora havia sido privatizada e funcionava como um grande estúdio cinematográfico. Tudo isso com o intuito de fortalecer a arte alemã e fomentar a economia local, exportando os filmes produzidos para o mundo todo.

As principais características desse movimento são o uso de formas abstratas, cenários e atuações antinaturalistas e retratação de sentimentos “negativos” como angústia, medo e solidão. Esteticamente, o cinema faz uso de maquiagens muito marcadas e do alto contraste entre luz e sombra. Tudo isso para criar um clima sombrio (reflexo do seu período?), um ambiente de sonho, com valorização muito mais do indivíduo em contraposição ao exterior, ao mundo e a sociedade.

Filmes

Alguns dos principais filmes desse movimento são:

  • Da Manhã à Meia-Noite de Karl Heinz Martin;
  • O Gabinete do Dr. Caligari de Robert Wiene;
  • O Golem de Gustav Meyrink;
  • Metropolis de Fritz Lang;
  • Nosferatu de F.W. Murnau.

Expressionismo Alemão foi cooptado por Hollywood

O expressionismo então fez um sucesso enorme no mundo todo, e ajudou a reerguer a economia Alemã até certo ponto. Então não demoraria muito para a maior democracia do mundo querer fincar suas garras no movimento, com o intuito de ficar com todos os lucros para si e aumentar seu monopólio na indústria audiovisual.

Muitos cineastas e produtores fizeram uma espécie de intercâmbio cultural para Berlim, no intuito de aprimorar a técnica cinematográfica com os mestres do expressionismo. O próprio Alfred Hitchcock, considerado um gênio do cinema de suspense, foi a Berlim e observou de perto o trabalho de F. W. Murnau.

Aliado a isso, houve uma grande evasão dos realizadores alemães do país após a ascensão do nazismo e do III Reich no país. Nesse período o Partido Nazista, muito na figura do ministro da propaganda, isto é Joseph Goebbels, começou a perseguiu artistas que não se alinhavam a ideologia do governo.

Com isso muitos realizadores fugiram para os Estados Unidos, onde foram cooptados pela indústria cinematográfica estadunidense para suas produções.

Nesse momento surgem então duas linhas de filmes fortemente influenciadas pelo movimento alemão, o Terror e o Noir.

O primeiro gênero nos presenteou com o Universo de Monstros da Universal, ou Universal Mosnters. Franquia de filmes de criaturas baseada em monstros clássicos da literatura de horror e ficção cientifica. Já falamos dessa franquia aqui.

Contudo, não foram apenas esse gêneros específicos que foram influenciados pelo expressionismo. A influência chega ao cinema moderno e produções contemporâneas. Cineastas como o já citado Hitchcock, e Tim Burton, bebem dessa fonte para criar suas composições visuais e narrativas. Obviamente não podemos considerá-los pupilos do movimento, ou que esse seria um Expressionismo 2.0, a há que se reconhecer, para o bem ou para o mal, sua influência muito marcante.

Arte sem Aura

Como vimos, por diversos fatores, a estética e formato narrativo do expressionismo alemão chegaram aos Estados Unidos e foi cooptado por Hollywood.

Como diria Walter Benjamin, esse movimento vanguardista perdeu sua aura. Aquilo que o dirigia para além do mero entretenimento comercial, e então passou a ser produto de massas.

Os filmes de monstros, por exemplo, resguardaram um pouco da estética e dos elementos gráficos do expressionismo, mas reduziram suas narrativas.

Tais longas-metragens não estão tão preocupados em questionar o indivíduo como estavam os produzidores pelos realizadores alemães. Antes visam apenas ser um entretenimento passável, que por mais que muitos deles tenham alcançado o status de cult nas décadas posteriores, não são nem de longe obras tão artísticas quanto o cinema alemão, preocupados mais em gerar bilheteria do que qualquer outra coisa. Não à toa o próprio Universo de Monstros sucumbiu ao peso das inúmeras continuações desnecessárias e caça níqueis.

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