Antes da Vertigo, haviam os BergerBooks nos quadrinhos. E a gente explica o que foi esse fenômeno que resultou num dos maiores selos das HQs.
A Invasão Britânica aconteceu na música após os Beatles invadirem o mercado estadunidense de música e depois o mundo todo. Nos quadrinhos um fenômeno similar aconteceu, após Alan Moore revolucionou a indústria.
E uma pessoa em particular foi responsável pela Invasão Britânica, que culminou na criação do selo Vertigo da DC. Essa pessoa foi Karen Berger, que trouxe diversos autores do Reino Unido para os quadrinhos americanos.
Isso porque esse fenômeno foi muito mais os Estados Unidos trazendo os quadrinistas britânicos para o mercado do que uma invasão propriamente dita.
Tudo começou como já dissemos com Alan Moore reinventando os quadrinhos do Monstro do Pântano nos anos 80, a convite de Len Wein, editor e criador do personagem.
Então entra em cena Karen Berger, editora que trabalhou com Moore em A Saga do Monstro do Pântano.
Karen Berger não era muito fã de quadrinhos de super- herói antes de trabalhar para a DC. O que foi muito bom para seu trabalho como editora, fugindo do clichê e criando histórias inovadoras.
Invasão Britânica
E após o sucesso de Monstro do Pântano nas mãos de Moore, a DC queria conferir o Velho Continente possuía mais talentos como o de Moore. Portanto Berger, a pedido da DC, foi para a Inglaterra ver se o raio poderia cair mais de uma vez no mesmo lugar.
Na volta a editora trouxe “na mala” quatro autores que revolucionaram o modo de fazer quadrinhos. Essa foi a primeira onde do que ficou conhecido como a Invasão Britânica. Esses autores foram ninguém menos que Peter Milligan, Jaime Delano, Grant Morrison e Alan Moore.
Karen Berger traz esses talentos para a DC Comics e oferece a eles a chance de repaginar antigos personagens B e C da editora.
Lembrando que estamos falando de 1986/87, nessa época a DC vivia o período pós-Crise nas Infinitas Terras, com vários personagens tendo suas origens recriadas. Portanto, Berger viu aí uma oportunidade de fazer o mesmo com uns personagens secundários. Que é mais ou menos o que Alan Moore fez com Monstro do Pântano. Isso com sua pegada menos super-heroica e mais mística, sobrenatural.
Estava feita a fórmula desse sucesso dessas histórias em quadrinhos, que ficaram conhecidas como BergerBooks. E que viriam a se tornar grandes clássicos dos quadrinhos.
As primeiras obras dessa leva em ordem cronológica foram:
Hellblazer (1987) – Jamie Delano
Apresentando o popular personagem John Constantine, criado por Alan Moore nas páginas de A Saga do Monstro do Pântano. Agora de volta à Inglaterra com uma pegada bem sobrenatural.
Homem Animal (1988) – Grant Morrison
Recriando o personagem criado por Carmine Infantino e Dave Wood nos anos 60 e que nunca teve muito destaque no Universo DC. Além disso, Morrison consegue imprimir uma carga filosófica e um debate político muito grande acerca dos direitos dos animais, veganismo e afins. As últimas edições são uma viagem metalinguística.
Sandman (1988) – Neil Gaiman
A princípio Gaiman queria fazer uma história da Orquídea Negra com Dave McKean. Karen Berger gostou tanto da ideia que iria lança-la como graphic novel de luxo, com direito a capa dura e tudo.
Porém Gaiman ainda não era muito conhecido, então precisava fazer outro trabalho “menor” de estreia. O inglês pensou e então escolheu Sandman, personagem criado por Jack Kirby nos anos 70. Mas, Berger disse que ele poderia esquecer os personagens antigos e criar uma história completamente nova. Surge então Sandman, que se tornou um clássico dos quadrinhos. E o resto é história.
Orquídea Negra (1988) – Neil Gaiman e Dave McKean
Então a DC lança essa belezura. Reza a lenda que quando os artistas foram apresentar a ideia pra Karen Berger, apenas Gaiman falava e Dave ficou em silêncio segurando a pastinha do portfólio. Por fim, quando o roteirista terminou de falar pediu ao amigo que mostrasse os rascunhos da arte. Então a editora se apaixonou pelas artes e o resto a gente já contou.
Shade: The Changing Man (1990) – Peter Milligan
Por fim Peter Milligan teve de escolher um personagem para trabalhar. O autor conta (em entrevista ao site Comics Bulletin) que escolheu o Shade, porque gostava muito do trabalho de Steve Ditko, criador do herói, porém não queria ligar seu trabalho a todo o background dos anos 70.
“Eu queria um personagem que pudesse ser usado como plataforma para eu falar sobre a América.” “Fiquei intrigado com os poderes de loucura de Shade e sua backstory bem maluca. Isso parecia me oferecer o escopo e liberdade para realmente colocar meu selo sobre ele.”.
Essas séries fizeram tanto sucesso que algum tempo depois a DC decidiu então criar o selo Vertigo, que seria comandado pela própria Karen Berger.
O selo trazia história mais maduras e ajudou a moldar a forma como conhecemos os quadrinhos hoje. Tanto que a Vertigo ficou conhecida como “a HBO dos quadrinhos”.