Não, a sua infância não foi destruída… Ela simplesmente acabou! Mas, antes de seguirmos, um disclaimer:
O texto a seguir representa a opinião do escritor e não reflete necessariamente o posicionamento do site.
Hoje em dia a internet anda muito chata! Eu sei que esse tema é corriqueira e já ficou batido falar disso, mas é a verdade. E não é de agora que as coisas são assim.
Lembro do início da democratização da internet no Brasil. O papo era de que viveríamos uma revolução no pensamento, nosso modo de viver seria alterado drasticamente e sem volta. Ou seja, seria uma verdadeira evolução social eles diziam. Pois é, não foi bem isso que experimentamos.
A internet está cada vez mais polarizada, cheia de discursos de ódio e haters. O que mais se vê é conservadorismo tóxico disfarçado de opinião. Nada novo debaixo do Sol, eu sei, mas está cada dia mais insuportável. Sim, esses três primeiros parágrafos foram só um desabafo.
As crianças do anos 90
Se você, como eu, cresceu com as crianças dos anos 90 ou, pior ainda, com os millenials, provavelmente ouviu alguma reclamação sobre uma obra de ficção que foi ou está sofrendo um reboot, remake e afins. “Minha infância foi destruída!” “Que lixo!” “Acabaram com o original!” Essas são algumas frases paradigmáticas ditas por essas pessoas que se recusam a crescer.
Podemos citar alguns casos que geraram essa tensão toda. O mais emblemático, pelo menos para mim é o caso dos Jovens Titãs. A equipe da DC ganhou uma animação em 2003, que contou com 5 temporadas e 65 episódios ao todo. A série foi um sucesso de público e conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Tudo isso graças aos seus méritos, que não são poucos.
Enredo incrível, personagens bem construidos, plot-twits insanos, sem falar na qualidade da animação, tudo isso fez com que a a série se tornasse o fenômeno que foi. Mas, essa é uma faca de dois gumes. Isso porque, com o cancelamento não explicado do desenho, em 2006 os fãs se voltaram contra a Warner e os produtores. Revolta inteligível, visto que a relação era praticamente passional.
Novas animações, para novas audiências
Mas as coisas saíram um pouco do controle quando a DC e a Warner lançaram uma outra série dos Titãs que não tinha nenhuma ligação com a antiga. A série intitulada Teen Titan Go!, ou Jovens Titãs Em Ação como ficou conhecida no Brasil, estreou em 2013, sete anos após o cancelamento da animação clássica. O desenho tinha uma pegada bem diferente de seu antecessor, com traços mais cartunescos, trama extremamente cômica e histórias nonsense.
Claramente era direcionado a outro público, que estava começando a consumir entretenimento de super herói. Poderia ser uma tremenda porta aberta para o mercada de quadrinhos e heróis no geral, não só da DC. No entanto os saudosistas não parecem ter entendido isso e caíram matando em cima do show. Criticaram, diziam que tinham matado os Titãs e xingaram muito no Twitter. Esqueceram que tal conteúdo nunca sequer foi direcionado a eles, antes foi feito pensando nas novas gerações de espectadores.
Não é necessário dizer que apesar dos haters a série se provou um sucesso e já conta com mais de 250 episódios e 6 temporadas, ganhando inclusive um filme que foi parar nos cinemas do mundo todo.
Mais Reboots
Outros dois exemplos que posso citar rapidamente são She-Ra e Cavaleiros do Zodíaco. Ambas as atrações ganharam remake pela Netflix e ambas foram duramente criticadas.
No primeiro caso antes mesmo da estreia, quando o serviço de streaming divulgou algumas fotos e cartazes da nova animação, a internet veio abaixo. Muito marmanja reclamando da qualidade do desenho e os traços dos personagens sem nem sequer entender o contexto ou esperar para conferir o produto final. Foram só vomitando opiniões prontas em bandos. Isso sem falar que eles nem eram o público alvo da produção.
Já no segundo caso a história foi um pouco, mas nem tanto, diferente. Algumas críticas vieram previamente, quando a Netflix anunciou que Shun teria o gênero alterado, passando a ser uma garota na nova animação. O que choveu de comentário b*st@ pela interweb não foi brincadeira. Mas o grosso da choradeira veio com a estreia mesmo, um monte de gente choram as pitangas pela qualidade da animação em 3D, que convenhamos é horrível, mas de forma alguma destrói, ou acaba com a animação clássica.
Sua infância não foi destruída
Poderia escrever parágrafos e mais parágrafos relatando casos semelhantes, mas acho que me fiz entender.
Afina, a infância de ninguém foi destruída. Às vezes a gente só tem que aceitar que ela acabou e não somos mais o público alvo de determinadas produções.
O que todas essas reclamações tem em comum é um saudosismo vazio e desmedido e uma miopia intelectual sem tamanho. Isto é, devemos entender que a produção de entretenimento não gira ao redor do nosso próprio umbigo, existe uma infinidade de nichos que precisam ser atendidos em suas demandas. Tem produtos, filmes, série e animações, que são direcionadas a nós e a essas devemos assistir com nossos critérios, agora tem uma porrada de outras coisas que não são feitas pensando em nós.
Pode não gostar
Não me interpretem mal, em momento algum eu solicitei que abdicassem de seu senso crítico. Não é nada disso! Pelo contrário eu os incentivo a usarem. Interpretem a realidade e o mercado, entendam o que é feito para você e o que não é. Julguem o que é feito para vocês com seus critérios, gostem, desgostem, amem, odeia, mas não vão junto com a massa.
E, pelo amor de Deus, parem de julgar como ruim ou inferior produções que claramente não lhes dizem respeito. É um ato natural das artes e do entretenimento buscar renovação, mudança, caso o contrário o mundo seria chato demais. Isso não exclui o mérito do que já passou, ou foi feito antes.
Então, se você não curtiu o remake, não assista! Sua infância não foi destruída simplesmente por ele existir. Pois, a animação clássica sempre vai existir, você pode assisti-la. Além disso, às vezes você pode até se surpreender como aquilo era superestimado, já aconteceu comigo mais de uma vez.
Paz.