Nesse ano fizemos algumas resenhas e críticas sobre produtos de entretenimento e cultura, tais como filmes, séries, livros e quadrinhos. Mas chegou o momento de falar de algo mais pesado, o ano de 2020. Sem dúvidas foi um ano de altos e baixos.
Parece que faz uma vida que estamos presos em 2020, mas eu lembro de como tudo começou. Era um momento de renovação de esperanças e de debates meio bobos também. Não sei se você lembrar, mas esse ano iniciou com uma discussão na internet se era o último ano da década ou o primeiro de uma nova. Em que essa discussão agregou? Em nada!
Mas olhando em retrospecto até isso faz falta. Até porque mal também não fez e gerou alguns momentos no mínimo divertidos online.
COVID
Contudo, logo no começo nossas esperanças foram frustradas por um vírus. Uma pandemia que surgiu no final de 2019, mas se alastrou mesmo no meio do primeiro semestre desse ano. A COVID-19, doença causada pelo coronavírus, arrasou países inteiros, ceifou muitos amigos e familiares de todos nós e virou nossas vidas de ponta cabeça.
Não vou tentar aqui fazer aqueles textos de coach fureba da internet, falando sobre o lado bom da pandemia, pois não acredito nisso. Acredito que essa doença e a forma como as autoridades, em especial as brasileiras, lidaram com ela deixaram nossa terra arrasada. Mas, acredito que se alguma lição ficou é a valorização das pequenas coisas, como a presença de quem se ama. Fica também o aviso para a valorização das ciências (todas, inclusive as humanas) e que há ainda muita luta contra o obscurantismo, o conservadorismo burro e o populismo tosco das autoridades que não estão preocupadas conosco.
E esse vírus, esse maldito vírus, tirou de nós muitos amigos e familiares, mas também levou embora muitos artistas e personalidades públicas admiradas por muitos. E não apenas a COVID, outras doenças também ceifaram a vida de celebridades e artistas, como é o caso dos atores David Prowse (intérprete do icônico Darth Vader) e Chadwick Boseman (que viveu o herói Pantera Negra nos filmes da Marvel), além do quadrinistas Dennis O’Neil (que, ao lado de Neil Adams, reformulou o Batman nos anos 70), do chargista Albert Uderzo (um dos criadores do Astelix), da atriz Naya Rivera (Glee), dos esportistas Kobe Bryant e Maradona, e tantos outros que nos deixaram esse ano.
Pandemia e cinema
É 2020 não foi nada fácil.
Em meio a todo esse caos, produções audiovisuais foram pausadas e estreias cinematográficas foram adiadas. Ou jogadas para o streaming. Sobre isso duas notícias valem destaque. A primeira é da insistência do diretor Christopher Nolan em lançar seu mais recente filme, Tenet, nos cinemas. A principio foi visto como uma decisão ousada do diretor. Porém o filme flopou nas bilheterias, não alcançando nem ao menos a marca de US$400 milhões (valor de produção do longa), e logo a decisão passou a ser vista como birra do diretor. O fato é que é uma decisão no mínimo questionável, afinal você está pedindo para as pessoas se aglomeraram em salas de cinema no meio de uma pandemia.
A decisão de Nolan e o consequente fracasso comercial de Tenet nos levam a segunda notícia que merece destaque. A decisão da Warner de lançar TODOS os seus filmes de 2021 simultaneamente nos cinemas e streaming, no caso o HBO Max. A princípio seria apenas Mulher Maravilha 1984 já no natal, mas logo em seguida o estúdio anunciou que todo seu catálogo de estreais no ano seguinte seguiria o mesmo caminho. A decisão foi ousada e levantou questionamentos de muitos, como o próprio Nolan. No entanto, o estúdio rebateu o diretor usando seu fracasso nas bilheterias como argumento.
Essa atitude da Warner Media só veio para sacramentar algo que todos nós já imaginávamos nesse ano. O domínio do streaming sobre outras formas de consumir conteúdo. Seja no cinema e nas séries, com a Netflix e Disney+ encabeçando uma verdadeira guerra para dominar o mercado, seja na música e podcasts com Spotify investindo pesado. Ou em todos os outros formatos.
Brasil
No cenário nacional, o Brasil continuou sendo o Brasil. Nos vimos envoltos em escândalos políticos, acusações de corrupção, 3 trocas no Ministério da Saúde no meio da pandemia. Isso sem contar árdua batalha entre os prós e os contrários às medidas de saúde pública, como a quarentena, que convenhamos nunca aconteceu de fato, como deveria ser, no nosso país. E a disputa pela vacina que pelo visto não vai chegar tão cedo.
E o brasileiro continuou a ser o melhor e o pior do Brasil. Continuamos nos polarizando, instrumentalizando a pandemia para fins políticos, negando o racismo, machismo e homofobia cotidianos. Mas também continuamos combatendo Fake News, apoiando o comércio e os artistas locais. Enfim, parafraseando o sábio, no brasileiro está a semente de todo o mal e de todo o bem.
Pequenas vitórias
Não foram só de coisas ruins, tivemos algumas pequenas vitórias. A confirmação da existência do Snydercut, que não foi apenas confirmado, mas também teve lançamento agendado na HBO Max para 2021. Além da chegada do Disney+ em terras brasileiras e uma ou outra coisa boa no meio desse turbilhão de coisa ruim.
Talvez a mais simbólica das boas notícias seja a derrota de Trump nas eleições presidenciais. Que por mais que seja pequena, visto que o vencedor é Joe Biden, representa uma derrota para o obscurantismo político e para o conservadorismo preconceituoso. No entanto, vamos parar por hora de falar sobre política para não afetar os mais sensíveis, que podem nos chamar de esquerditas.
Em suma, 2020 foi caótico. Com relances de coisas boas e pitadas de momentos pontuais de esperança e fé na humanidade. Mas o melhor é que ele está acabando. E as esperanças ressurgem novamente, como é de praxe a cada vez que a Terra completa um ciclo em torno do Sol, evento que convencionamos chamar de Fim de Ano (não sei escrever revenhon, reiveilion, rei leão, sei lao pouco importa).
Porém, apesar de o dever moral nos imputar a responsabilidade de sermos otimistas, ainda mais com a Inglaterra já vacinando sua população. Cabe lembra que somos brasileiros e nossa pátria mãe nos força a sermos realistas, portanto 2021 pode ser ainda pior.
Lembrem-se caros leitores: esperem sempre pelo melhor, mas preparem-se para o pior.
Abraços e feliz ano novo.