Onde o Expressionismo Alemão e o Neorrealismo Italiano se encontram

Onde o Expressionismo Alemão e o Neorrealismo Italiano se encontram

Não, você não leu errado! Existe um ponto de encontro entre o o Expressionismo Alemão e o Neorrealismo Italiano. Quer saber qual? Então, continue lendo.

Mas primeiro responda: Qual a semelhança entre esses dois filmes?

Poster do filme "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920), que inaugurou o Expressionismo Alemão
Poster do filme “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920)
Poster do filme "Roma, Cidade Aberta" (1945), que inaugurou o Neorrealismo Italiano
Poster do filme “Roma, Cidade Aberta” (1945)

Na verdade, as semelhanças são poucas, mas são tão grandes que se tornam significativas.

O primeiro filme é “O Gabinete do Dr. Caligari” de 1920, dirigido por Robert Wiene. O segundo é “Roma, Cidade Aberta” de 1945, de Roberto Rossellini.

O primeiro é um filme de terror e fantasia, gravado majoritariamente em estúdio, com cenários pintados e faz muito uso de closes e planos fechados. Já o segundo é um thriller de guerra, gravado majoritariamente em cenários reais a céu aberto, inclusive usando pessoas que não eram atores profissionais, e com muitos planos sequência e planos gerais e abertos.

O primeiro é um filme mudo produzido na Alemanha. O segundo é um filme falado produzido na Itália. Embora ambos sejam preto e branco. Tá aí a primeira semelhança.

Mas, se são filmes tão diferentes o que eles têm em comum?

Onde o Expressionismo Alemão e o Neorrealismo Italiano se encontram?

Ambos inauguraram acidentalmente “movimentos” importantes do cinema. O primeiro deu o pontapé ao Expressionismo Alemão, já o segundo originou o Neorrealismo Italiano.

Além disso, ambos foram produzidos e lançados após uma guerra mundial. E aí está a razão desses filmes inaugurarem movimentos cinematográficos.

Com seus closes, uso exagerado de expressões, closes e contraste entre luz e sombra, “O Gabinete do Dr. Caligari” inaugurou o expressionismo alemão nos cinemas. Um movimento que expressava a agonia da sociedade alemã, que viu seu país economicamente arrasado e socialmente humilhado após a derrota na primeira guerra mundial.

Enquanto que “Roma, Cidade Aberta”, usa dos grandes planos gerais e dos planos sequência para apresentar Roma, uma cidade que é muito mais do que meramente um cenário, antes é uma personagem importante da trama. Além disso, o foco raramente é um personagem específico, mas sim a multidão. Tudo isso para demonstrar a destruição causada pela segunda guerra mundial e a desmoralização social causada pela invasão do exército alemão e a tomada da cidade pelos nazista. Evidenciando que não se trata de um drama particular, mas sim o triste destino de uma sociedade inteira. Elementos que foram utilizados por outros cineastas do mesmo período na Itália, resultando no que ficou conhecido como neorrealismo italiano.

Ou seja, ambos os movimentos são frutos de seu tempo e expressam as condições históricas do local onde foram concebidos.

Uma curiosidade

Enfim, outra curiosidade é que existe uma rixa entre os estudiosos de classificar tanto o “Expressionismo Alemão” quanto o “Neorrealismo Italiano” como “movimentos cinematográficos” propriamente ditos.

Isso porque nenhum dos dois foram movimentos conscientemente articulados pelos realizadores, que seguiam regras claras de construção artísticas. Foram, na verdade, antes de mais nada, expressões artísticas de autores que refletiram e construíram obras muito parecidas, seguindo os mesmo moldes. Pois era assim que eles se sentiam, ou eles achavam que daquela maneira conseguiam capturar o espírito de seu tempo.

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Mas as semelhanças acabam por aí.

“O Gabinete do Dr. Caligari” buscou representar o real de maneira medonha e nada “realista”, pois a verdade era bizarra para os alemães naquela altura e parecia que as coisas não iam melhorar nunca. Ou seja, a fantasia retratava a verdade da consciência coletiva de sua sociedade, que se sentia impotente. Era uma forma de escapar, mas nem tanto.

Já “Roma, Cidade Aberta” buscou reproduzir a realidade de maneira mais verossímil possível. Talvez uma resposta ao estado de espírito da população romana, que na falta de ajuda das autoridades (nacionais e internacionais), só viu uma saída, lutar com as próprias mãos. Ou seja, não se tratava de escapar da realidade, mas antes enxergá-la como ela é para transformá-la.

Referências e uma dica

Esse conteúdo foi quibado quase na íntegra da primeira aula do curso Cinema e Filosofia do professor Alisson Gutemberg. Eu pensei nele durante a explicação do professor sobre o filme Ladrões de Bicicleta e a questão da verossimilhança: uma introdução ao pensamento de Aristóteles.

Então ficam aqui os créditos. Não é uma publi, mas é uma indicação, quem quiser fazer o curso acho que tem ainda na hotmart e tá barateza. E para mais conteúdos como este, continue acompanhando o InduTalks e se inscreva no nosso canal do Youtube.