Halloween: Conheça a Escola Oriental de Cinema de Terror

Escola Oriental de Cinema de Terror

Não, não é tudo j-horror! Conheça a Novíssima Escola Oriental de Cinema de Terror, isto é, se tiver coragem.

O Chamado” (2000), “O Grito”, (2002), “Água Negra” (2002) e outros filmes japoneses similares romperam as fronteiras de seu país de origem e meteram medo em geral. Tanto que fundaram um gênero que ficou conhecido como j-horror.

Entretanto, não foi apenas o Japão que conseguiu desenvolver bons filmes nessa leva de terror. Tanto é que o mestre em cinema pela Universidade Tuiuti do Paraná, Wylkys Weinhardt Gonçalves cunhou um termo que abrange todos os filmes de terror orientais. Trata-se da Novíssima Escola Oriental de Cinema de Terror, uma escola de cinema que abrange filme de diferentes nacionalidades, ou seja, filmes japoneses, chineses, sul-coreanos, laociano, vietnamitas, etc.

Mas não é apenas a geografia que une essas produções. Afinal, o professor Wylkys define alguns elementos comuns de todos os longas que compõem essa escola cinematográfica.

Elementos do Medo da Novíssima Escola Oriental de Cinema de Terror

Wylkys, em sua tese de mestrado, define elementos que aparecem, de uma maneira ou de outra, em todos os filmes dessa escola. Confira abaixo todos eles.

Mundo Espiritual

O mundo espiritual e sua relação, nem sempre de equilíbrio, com o mundo físico são figurinhas carimbadas nos filmes da Novíssima Escola Oriental. Talvez por conta das raízes culturais advindas de suas culturas, ou então devido a carga espiritual muito forte nessas sociedades.

Contudo, seja qual for o motivo, fantasmas, espíritos obsessores, almas desencarnadas que amaldiçoam ou são amaldiçoados são temas fundamentais. Geralmente a trama gira em torno desses seres.

Wylkys destaca que ao contrário “do terror gótico europeu (nigro), ou do cinema gore norte americano, há pouco sangue e carnificina no terror oriental”. Ou seja, o medo não é físico, é psicológico, ou se preferir, espiritual.

Paleta de Cores

A paleta de cores dos filmes da Novíssima Escola Oriental é predominantemente fria, tendendo para o azul esverdeado ou o verde azulado. Além disso, os filmes tem um contraste único, o que os deixa com um aspecto “lavado”.

Segundo a psicologia das cores azul e verde, cores frias e neutras conduzem ao bem-estar, ao acolhimento. Entretanto quando usadas nos filmes de terror, elas rementem ao frio e a falta de proteção. Elemento muito ligado ao primeiro tópico e que ajuda a construir o medo, pois as personagens, meros humanos, estão desprotegidos frente ao perigo representado pelo mundo espiritual. E isso é assustador!

Crianças

Uma criança, especialmente para o mundo ocidental, pode representar inocência, pureza, afinal elas são o símbolo de um novo começo, o início de uma nova vida. Mas, para algumas tradições orientais elas são encaradas como pequenos espíritos maléficos que ainda não foram treinados e doutrinados nos saberes antigos. Portanto, representam um perigo para a tradição que rege a vida cotidiana.

E é por isso que a maioria desses filmes utiliza crianças, e algumas bem assustadoras, como um dos principais elementos do medo.

Além disso, talvez essa subversão da figura infantil seja o que torna esses filmes tão assustadores para os ocidentais e atraia esse público para os filmes de terror do oriente, tornando-os fenômenos mundiais.

Água

Água, a fonte da vida, indispensável para nossa sobrevivência, mas também um elemento causador de muito medo.

Para muitas pessoas pode parecer estranho a água ser tão assustadora. Contudo, Wylkys afirma que esse elemento é encarado como “veículo de energias indesejáveis”. Ou seja, a água é um condutor universal, conduz tudo, para o bem e para o mal.

Por isso tantos filmes utilizam desse elemento para assustar sua audiência.

Cabelo

Sim, o cabelo é um elemento muito presente e causa muito medo. Afinal, segundo Wylkys, ele é considerado “uma importante parte energética do corpo humano”. Isto é, carrega as energias boas e ruins de seus portadores.

Então cabelos de espíritos malignos carregam energias negativas de seus portadores. O que então se traduz no modo como esse elemento é trabalhado nos filmes.

Fotografias e máquinas fotográficas

Sejam analógicas, sejam digitais, as fotografias também são elementos recorrentes nesses filmes, pois, são janelas para o mundo espiritual.

Afinal, as máquinas fotográficas, enquanto instrumentos de captação de luz, registram aquilo que o olho humano não é capaz de enxergar. Uma vez que os espíritos são puramente manifestações luminosas.

Telefones e celulares

Para muitos de nós pode parecer normal fazer ou receber uma ligação por telefone fixo (isso existe ainda?) ou pelos aparelhos celulares. Ok, essa prática anda meio esquecida pela juventude, que só quer saber de mensagem instantânea e aplicativos, mas tá valendo.

Entretanto, se pararmos pra pensar, estamos conversando à distância, com alguém que não vemos. Ou seja, em última instância, estamos conversando com o invisível. De acordo com Wylkys: “um acesso pelo qual outra dimensão pode entrar em contato com o mundo dito real”. Por isso os telefones causam tanto medo.

Elevadores

Não apenas pela constante apreensão da queda, ou por se tratar de um cubículo claustrofóbico de metal, o elevador provoca muito medo.

Wylkys defende que o ser humano é um ser bidimensional, isto é, se move apena para os lados, para frente e para trás. Portanto, o apelo “vem exatamente dessa qualidade de ser um lugar instável e que possibilita a aparente mudança de planos”.

Filmes da Novíssima Escola Oriental de Cinema de Terror

Mas, sem mais delongas, confira abaixo uma lista com os principais filmes de terror que compõem o que Wylkys chamou de a Novíssima Escola Oriental:

  • O Chamado (Ringu). Direção: Hideo Nakata. Japão – 1998.
  • Água Negra (Honogurai Mizu no Soko Kara). Direção: Hideo Nakata, Japão – 2002.
  • O Olho – A Herança (Gin gwai). Dir.: Pang Brothers, Hong Kong / Singapura – 2002.
  • Spirits – Sobrenatural (Oan Hon). Direção: Victor Vu, Vietnam – 2004.
  • Silk – O Primeiro Espírito Aprisionado (Gui Si). Direção: Su-chao Bin, Taiwan – 2006.
  • Ghost Mother (Ghost Mother). Direção: Theeratorn Siriphunvaraporn, Tailândia – 2007.
  • Chanthaly (Chanthaly). Direção: Mattie Do, Laos – 2012.
  • Lift to Hell (ou 18 Floors Underground) (Dianti). Direção: Ning Jingwu, China – 2013.
  • Mourning Grave (Sonyeogoedam). Dir.: In-chun Oh, Coreia do Sul – 2014.

Confira a lista completa no FIlmow: Novíssima Escola Oriental de Cinema de Terror

Elementos do Medo

Tabela de Elementos do Medo da

Tabela de Elementos do Medo

Mas será que os filmes listados acima podem mesmo se encaixar na definição de Novíssima Escola Oriental proposta por Wylkys?

Confira o quadro abaixo e então descubra quais filmes gabaritam os elementos do medo em sua construção narrativa.

FilmeAnoPaís de OrigemInteração com o mundo espiritualPaleta de cores: verde / azulÁguaCabeloCriançaFotografiaTelefoneElevador
O Chamado1998JapãoXXXXXXXX
Água Negra2002JapãoXXXXXXXX
O Olho – A Herança2002Hong Kong (China) / SingapuraXXXXXXXX
Spirits – Sobrenatural2004VietnãXXXXXX  
Silk – O Primeiro Espírito Aprisionado2006Taiwan (China)XXXXXXXX
Ghost Mother2007TailândiaXXXXXXXX
Chanthaly2012LaosXXXXXXX 
Lift to Hell (ou 18 Floors Underground)2013ChinaXXXXXXXX
Mourning Grave2014Coreia do SulXXXXXXXX

Mas, quer saber mais sobre a Novíssima Escola Oriental? Então confira o InduTalk #55, que contou com a presença ilustre do professor Wylkys, disponível na íntegra também no Youtube e no Spotify.