House of The Dragon | o punitivismo e a violência do Estado

House of The Dragon e o punitivismo e a violência do Estado

Game of Thrones pode ser um mundo de fantasia e ficção, porém se inspira em muitos eventos da vida real. E a nova série live-action desse universo, House of the Dragon, também. Entre eles a relação entre punitivismo e a violência do Estado.

Ah vai ter spoilers do primeiro episódio, então siga por sua conta e risco!

No primeiro episódio de House of the Dragon a gente volta a ter aquele gostinho de trama política que a gente tanto gosta de GoT.

Tramas políticas

Daemon Targaryen e o punitivismo

Numa cena macabra o príncipe Daemon Targaryen exibe toda sua crueldade aplicando a Lei do Rei de uma maneira bem visceral. Ele corta a mão de ladrões, as partes baixas de criminosos sexuais e corta umas cabeças de criminosos no geral. Se fosse no Brasil, faria a alegria da imprensa “pinga sangue“, que defende que “bandido bom é bando morto” e dos cidadãos de bem.

Além disso, após esse feito, a corte se reúne para debater essa questão. Alguns se mostram preocupados, não porque o punitivismo bárbaro é ruim e não gera resultados, mas pela sede de poder de Deamon. Afinal, o príncipe dominou os Mantos Dourados, força militar de elite do reino, e pode usar seu poder para dar um golpe e se tornar rei.

Já outros membros da corte defendem Deamon por “cumprir a lei” a qualquer custo. Isso colocaria os plebeus na linha.

Essa cena levanta a bola pra gente discutir a problemática da violência urbana e da segurança pública nos grandes centros urbanos.

Punitivismo no Brasil

O punitivismo penal e a barbárie institucional, no Brasil representada pela violência das polícias, encorajada pelos governantes e corroborada pelo silêncio consensual da justiça, embora seja celebrado por boa parte da população e da imprensa, não gera resultados positivos. Afinal, só aumenta a raiva dos criminosos, que se tornam mais cruéis para contra-atacar as forças policiais, que por sua vez se tornam mais implacáveis e o círculo vicioso se torna ininterrupto.

Além disso, essa violência é muito bem endereçada. Quer dizer, eu estudo na PUC e lá não se vê bala perdida, bem rolou uma vez, mas é a exceção que prova a regra. Eu vi abordagens policiais super solicitas e que quase pediam por favor pra estudante apagar o baseado no bar em frente a Universidade. Agora, experimenta fumar o mesmo baseado na favela pra tu ver.

Isso sem falar nas vítimas inocentes nesse processo de justiça a qualquer custo. Hoje é o filho da empregada que morre indo pra escola, é o preto voltando do trabalho que é preso injustamente. E quando for o sangue da classe média nos condomínios que começar a jorrar, porque a polícia tem síndrome de Deus?

“Ah, é só não cometer crime que não sofre violência policial!” Além dessa afirmação não resistir a um segundo de realidade. É só observar os índices de presos que ainda aguardam julgamento, isto é, gente que está presa, mas ainda nem foi condenada pela justiça; ou de presos que ficaram anos na cadeia até se confirmar que era inocentes.

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A elite e o punitivismo

E a cena da corte também mostra que a elite social não tá nem aí pra violência. Porque sabe que tem dinheiro o suficiente para se proteger, quem lembra do cara de Alphaville xingando um policial de São Paulo. Além dos mais, essa violência também é usada de instrumento de dominação.

Não é à toa que só pobre morre de bala perdida. Afinal, a elite usa as polícias para proteger sua propriedade privada e, assim, os meios com os quais conseguem perpetuar sua dominação.