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Fato e Ficção em… Freud (Netflix)

Freud (Netflix), 2020

Em 2020 a Netflix lançou Freud, série em parceria com a produtora austríaca ORF, que traz o pai da psicanálise caçando um serial killer com a ajuda de uma médium húngara.

Mas o que é verdade e o que é ficção na série Freud da Netflix, com o nosso psicanalista preferido? É isso que vamos descobrir juntos.

Fato #01 – She don’t lie, she don’t lie… cocaine

Isso mesmo! O psicanalista mais falocêntrico da cultura pop tinha, digamos, uma quedinha pelo pó branco, o raio, a famigerada cocaína.

Como mostrado na série, ele usava a substância misturada a água na vida real. Porém não era apenas para o uso recreativo que ele consumia a cocaína.

Enquanto ainda trabalhava como neurologista, como no começo da série, o Freud conheceu as pesquisas envolvendo os derivados da folha da coca, extraída na américa do sul. 

Os relatos e principalmente o livro Sigmund Freud, o Século da Psicanálise, biografia escrita pelo psicanalista argentino Emilio Rodrigué, contam que Freud começou a usar cocaína aos 28 anos, então em 1884. E no mesmo ano escreveu um artigo intitulado “Über Coca” (Sobre Coca) recomendando o uso da substância como medicamento.

Indicando inclusive o uso para tratar pacientes com doenças como hipocondria, neurastenia, histeria, melancolia e prostração nervosa e, ironicamente, para o tratamento de viciados em álcool e morfina.

E não apenas para paciente, mas ele enviava cocaína para os seus amigos médicos. Inclusive para o Dr. Carl Koller, que realizou o primeiro transplante de olhos da história, usando a bendita como anestesia local.

O sucesso da droga foi tanto que era vendido em farmácias em toda a Europa, não à toa Freud tinha tanta facilidade em conseguir o pó branco. Igual certos senadores do Brasil aí. E nem precisava de jatinho da força aérea.

Porém, no final do século XIX, relatos científicos começaram a demonstrar o alto poder viciante da cocaína, e diversos pacientes do Dr. Sigmund ficaram viciados e tiveram comportamentos problemáticos. Aí o próprio Freud largou a cocaína para criar a psicanálise.

Então tá aí um fato que a série acertou!

Ficção #01 – Não rolou Freud vs Jack Estripador Austriaco

Ao contrário do que foi mostrado na série e por mais insano que pudesse ter sido algo assim na realidade, Freud nunca ajudou a polícia local a perseguir um serial killer.

Pode ser que ele tenha ajudado as autoridades em algum momento específico, mas nunca numa investigação tão longa ou complexa quanto a série mostra.

Porém ele chegou a ter contato com a criminologia, escrevendo até mesmo um artigo intitulado “Alguns tipos de caráter encontrados no trabalho psicanalítico”, onde descreve como a culpa leva algumas pessoas a cometer crimes. Pessoas a quem ele chamou de “Os criminosos em consequência de um sentimento de culpa”.

Muita gente tentou linka Freud e soluções de crime antes da Netlifx, como é o caso do psiquiatra Michael Shepherd no livro Sherlock Holmes e o caso do Dr. Freud. Mas Freud nunca perseguiu criminosos na vida real, então é ficção.

Fato #02 – Cartas calientes

Sim, o psicanalista mais falocêntrico de todos os tempos, também tinha seus impulsos sexuais salientados. E isso era devido a cocaína? Talvez!

Logo no começo da série vemos uma troca de cartas entre Freud e Martha Bernays, uma espécie de sexting antes do Whatsapp.

Nas cartas Freud é bastante ousado:

“Ai de você, minha princesa, quando eu chegar. Vou beijá-la até você ficar bem corada e alimentá-la até que fique rechonchuda. E se você for bem teimosa, verá quem é mais forte: uma delicada jovem que não quer comer o suficiente ou um grande e selvagem homem que tem cocaína no corpo”

E a correspondente não fica pra trás não. Ela responde:

Quem me chama de jovem delicada não enxerga direito. A cocaína tem efeito colateral? Ou você está ficando cego no auge de sua virilidade. O almanaque de medicina da minha mãe diz que masturbação pode ser a causa disso.

E o melhor de tudo é que essas cartas realmente existiram. Nem todas contavam com esse teor erótico, é claro. Mas especula-se que o jovem psicanalista tenha escrito mais de 900 cartas de amor para Martha, com quem só foi se casar  apenas em 1886. Ao que tudo indica o psicanalista não tinha dinheiro para bancar uma família, por isso enrolava a moça.

Então tá aí mais um fato que a série Freud, da Netflix, representou bem, isto é, Freud mandando mensagem salientes para sua amada.

Confira Também: FATO e FICÇÃO em… Freud (Netflix)

Ficção #02 – Fleur Salomé

Nunca houve na história da humanidade uma pessoa chamada Fleur Salomé. Quer dizer, na história da humanidade pode ter existido, mas na história de Freud não.

Embora o nome, que é quase um palíndromo de Fred (Fruel – Fluer), seja muito parecido a uma outra figura histórica com quem Freud teve sim contato.

Trata-se de Lou Andreas-Salomé, percebe o sobrenome? Lou Andreas-Salomé, foi uma ensaísta, filósofa, poeta, romancista e psicanalista nascida na Rússia Imperial, que viveu entre 1861 e 1937, por quem Freud nutriu uma grande admiração. 

Além de ser amiga do psicanalista, a moça ainda foi amante do poeta Rainer Maria Rilke e do filósofo Friedrich Nietzsche.

Além disso, há quem aponte uma relação do nome com o livro “Les Fleurs du Mal“, (“As Flores do Mal“), coletânea de 1857 de poesias escritas por Baudelaire.

Então uma ficção, mas uma ficção baseada na realidade. Talvez.

Fato e Ficção #03 – Hipnose

Polêmica!

Sim, Freud usou a hipnose como um método para o tratamento das “doenças da almas” como eram chamadas até então. E ele próprio não se considerava tão bom, fato que também foi representado na série.

Porém a série representa o método de hipnose de maneira bem mais dramática, chegando em alguns momentos a misturar hipnose com mediunidade. Nos momentos em que Freud interage com Fleur e ela tem visões sobre os crimes.

Em alguns momentos vemos a misteriosa Sophia von Szápáry também fazer uso da hipnose para seus propósitos pessoais um tanto questionáveis. Porém aqui sim é uma interpretação bem livre do método. Pois em questão de segundos, com um simples toque ela consegue hipnotizar alguém e influenciar essa pessoa a fazer qualquer coisa, inclusive se matar. É quase um super poder.

Então ficamos aqui no limiar entre fato e ficção.

E você o que achou? Sentiu falta de algum fato que Freud da Netflix apresenta? Gostaria que analisássemos outra obra da cultura pop que apresenta uma personalidade histórica? Então, não deixe de comentar que filme ou série você gostaria de ver analisada.

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