Esquenta pro Oscar | O que “Os Sete de Chicago” pode nos ensinar sobre o Brasil atual e leis injustas

Os Sete de Chicago - Netflix

Alguns filmes trazem questões importantes. Então, saiba o que “Os Sete de Chicago” pode nos ensinar sobre o Brasil atual e leis injustas.

A temporada de premiações está quase acabando e, sem dúvidas, a cerimônia mais aguardada é a do Oscar.

A 93ª Cerimônia de entrega dos Academy Awards desse ano vai acontecer no próximo domingo (25), e nós aqui do InduTalks preparamos uma série de posts sobre a premiação para você entrar no ritmo de festa com a gente.

E nesse post especifico, eu gostaria de falar sobre um filme que está indicado em múltiplas categorias e como ele pode lançar uma luz para entendermos o cenário atual do nosso país e como nem sempre a lei é justa.

Os 7 de Chicago

Estou falando de Os 7 de Chicagos, que conta com direção e roteiro de Aaron Sorkin e concorre em seis categorias no Oscar desse ano, entre elas Melhor Filme e Melhor Roteiro Original.

O filme descreve, com algumas liberdades criativas, o caso real do julgamento do sete de Chicago, acusados de inflamar uma multidão que manifestava em Chicago, Illinois, conta a polícia, criando um tumulto. A intenção da manifestação era protestar contra a Guerra do Vietnã, durante a realização da Convenção Nacional Democrata de 1968.

Os líderes dos grupos que organizavam a manifestação insistiram para que a prefeitura da cidade de Chicago concedesse autorização e se preparasse logisticamente para o evento. Entretanto, as autoridades não deram ouvidos aos apelos dos protestantes.

Não preciso nem dizer que a manifestação aconteceu e foi duramente reprimida pela polícia, que utilizou de violência exagerada para conter os manifestantes. Algo que chocou a sociedade americana. Afinal, não era comum ver a polícia batendo em tanta gente branca.

O caso repercutiu na mídia e virou um grande escândalo para a política institucional norte americana. Era preciso fazer alguma coisa. E a polícia fez o que sabe fazer de melhor. Conseguiu alguns bodes expiatórios para condenar em julgamento super sensacionalista.

Os réus

Os escolhidos então foram sete militantes, de diversas correntes. São eles: Abbie Hoffman (Sasha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), David Dellinger (John Carroll Lynch). Além do fundador do Partido dos Panteras Negras, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), que foi acusado por ser negro e estar em Chicago enquanto os protestos aconteciam, ou seja, só podia ser culpa dele mesmo.

O então procurador-geral dos Estados Unidos, Ramsey Clark, não quis seguir com julgamento. Até porque o relatório da investigação dos tumultos foi conclusivo ao dizer que as forças policiais iniciaram a confusão, ou seja a confusão não partiu dos manifestantes.

Mas, tudo muda quando Richard Nixon assume a presidência e escolhe como procurador-geral John Mitchell. Que estava disposto a seguir com o julgamento e provar a culpa dos réus.

Lei Rap Brown

Os ativistas são então acusados pelo governo dos Estados Unidos por formação de quadrilha e cruzar limites estaduais para incitar violência. Tudo isso com base na Lei Rap Brown.

Lei essa aprovada pelo congresso americano em 68, poucos meses antes das manifestações em Chicago. A intenção era perseguir “agitadores externos”. Mas se formos trocar em miúdos, o que o congresso pretendia era dar poderes ao executivo para perseguir opositores políticos que tentassem organizar manifestações por direitos civis. Algo que estava muito em voga, graças a política desastrosa da presidência do país na Guerra do Vietnã.

O resultado foi um julgamento totalmente parcial, onde direitos e garantias legais era atropelados, chegando ao extremo do juiz Julius Hoffman mandar amordaçar Bobby Seale por o mesmo ter exigido a presença de seu advogado e chamado a corte de racista por se recusar a atender o pedido.

O caso é um show de horrores. Pois mostra os direitos da população sendo jogados no lixo quando o judiciário obedece interesses políticos. Tanto que o julgamento foi anulado anos depois e todas as condenações foram canceladas.

Contudo, o longa que relata o caso dos Sete de Chicago pode nos oferecer um alerta para o cenário atual do nosso país.

O Brasil

Isso porque ainda hoje o advogado-geral da União utiliza leis da época da ditadura militar para perseguir politicamente todo mundo que faça qualquer questionamento ao nosso presidente.

A lei em questão é a lei número 1.710 de dezembro de 1983, conhecida como Lei de Segurança. Uma lei da época da ditadura militar, que na época buscava dar poderes para combater quaisquer ativistas e militantes e enquadrá-los como terroristas. Alguma semelhança com o caso dos 7 de Chicago?

Mas, atualmente essa lei vem sendo usada pela presidência, na figura de Ministros e do advogado-geral da União, para “investigar” qualquer pessoa que teça críticas ao presidente. Algo que é muito difícil de não fazer, principalmente após a terrível condução da pandemia no país.

Ou seja, estamos nesse momento vivendo um fato histórico, o executivo aparelhando as leis para perseguir opositores políticos. Pois, segundo o G1, existem 85 inquéritos já instaurados, mais do que o saldo dos 11 anos anteriores (2008-2018).

Será que vamos ter que esperar mais cinquenta anos para algum cineasta fazer um filme denunciando esses abusos?

Referências:

Crítica: Os 7 de Chicago | Omelete

Os Sete de Chicago | Canal Ciências Criminais

Hoje na História: 1969 – Julgamento condena os “Sete de Chicago” por conspiração | Opera Mundi

Os 7 de Chicago | Confira a timeline dos fatos reais que inspiraram o filme da Netflix | ODISSEIA

Brief History Of Chicago’s 1968 Democratic Convention | All Politics CNN Time

LEI Nº 7.170, DE 14 DE  DEZEMBRO DE 1983. | Planalto.gov.br

Lei de Segurança Nacional: o que é? | Politize!

Aras apura uso da Lei de Segurança Nacional por André Mendonça contra críticos do governo Bolsonaro | G1