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Capitão Fantástico: Anarquia não é bagunça

Capitão Fantástico: Guia de Leitura não oficial

Nós adoramos filmes, pois em sua maioria eles não passam boas lições. Portanto, confira uma lição que podemos tirar de Capitão Fantástico: Anarquia não é bagunça!

Capitão Fantástico

Capitão Fantástico é um azarão que brilhou com sucesso e deixou sua marca no cinema mundial. O roadmovie independente de baixo orçamento, tem poucos nomes conhecidos atrelados a ele. Os destaques ficam por conta de Matt Ross, ator de terceiro escalão de Hollywood, com algumas participações como coadjuvante em filmes como Psicopata Americano e O Aviador, e Viggo Mortensen, nosso eterno Aragorn, na pele do protagonista, o patriarca Ben.

O filme é uma mistura de Pequena Miss Sunshine com Na Natureza Selvagem, navegando entre o drama e a comédia, e sendo um Road Trip Movie excelente. Além disso, aborda questões sociais e filosóficas de maneira muito crua. 

Tanto que, por diversas vezes, o filme cita o filósofo Noam Chomsky, que é considerado no meio acadêmico como o pai da linguística moderna.

Um ponto que não é citado explicitamente, mas que tangencia o longa em vários momentos ao longo de sua 1h58m de duração é a Anarquia.

Anarquia

Muita gente acredita que anarquia é sinônimo de caos, bagunça. Aposto que você já viu alguma imagem nas redes sociais com alguma frase sobre anarquia com a foto do Coringa ao fundo, geralmente uma frase de alguém que interpretou errado o conceito e é divulgada para e por pessoas que também entenderam errado.

É dessas fotos que eu estou falando. Ainda por cima não é nem o Coringa certo.

Ben e sua família, sua esposa, que faleceu logo no começo do filme, e seus seis filhos, vivem basicamente em um estado de anarquia.

Apesar da relação hierárquica de pais e filhos, baseadas mais na experiência de vida do que na força da figura de autoridade propriamente dita, a dinâmica familiar é bem horizontal na maioria das vezes. O pai se mostra sempre extremamente franco, nunca duvidando das capacidades físicas e psicológicas de seus filhos, que inclusive são bem participativos nas tomadas de decisões, como nos planos de “resgate da comida”. Sem contar que eles vivem no meio da floresta, com pouquíssimo contato com a sociedade.

Auto-gestão

Porém, apesar disso, ou, quem sabe, por isso mesmo, eles não vivem uma vida desregradas ou caótica. Muito pelo contrário, a família estabeleceu um sistema funcional para sobreviver na selva. Eles precisam sobrepujar inúmeras adversidades, e só conseguem fazer isso sendo uma unidade bem ajustada de integrantes preparados.

Todos os membros da família possuem capacidades físicas muito acima da média. Até porque Ben os coloca sobre treinamentos que crianças comuns não aguentariam, afinal só assim eles sobrevivem na selva. As capacidades cognitivas também não são deixadas de lado, antes são aprimoradas tanto quanto as físicas. As crianças são incentivadas a ler sobre tudo, filosofia, física, sociologia, direitos humanos, bem como a desenvolver o senso crítico sobre todas as coisas que lêem.

Não existe uma autoridade que os obrigue a ir à escola, mas eles estudam, e muito mais que uma crianças devidamente matriculada numa instituição de ensino, diga-se de passagem. Não há a obrigação do trabalho, contudo todos dividem as tarefas conforme suas capacidades para o bom andamento da comunidade. Em suma, não existe a figura do Estado, do governo ou de instituições quaisquer que sejam (religião, iniciativa privada, política), mas todos se respeitam e cooperam, e no fim temos uma família extremamente unida.

Capitão Fantástico: Anarquia não é bagunça

Ou seja, dá pra ver com Capitão Fantástico que anarquia não é bagunça. É só ir pro meio do mato e viver livre da sociedade. Não. Requer disciplina, senso crítico apurado e empatia para entender como o todo funciona, seu papel e a alteridade. É uma organização sem hierarquias, mas com respeito mútuo.

Claro, que nem tudo são flores. Por diversas vezes Ben se mostra inflexível, rígido ou mesmo ditatorial, o que provoca atritos entre ele e os filhos. Mas estamos falando de pessoas aqui, e pessoas são diferentes, o que gera problemas. E se não tivéssemos situações problemáticas não teríamos um filme, pelo menos não um tão bom quanto esse.

Espero ter podido contribuir um pouco com esse debate e pelo menos plantado a semente da dúvida com relação aos velhos paradigmas sobre essa corrente filosófica e política tão maltratada que é a anarquia. Se você quiser saber mais, pode mandar mensagem pra gente nas redes sociais, ficaremos felizes em responder, ou deixa aqui nos comentários mesmo. E lembre-se sempre de procurar o professor de filosofia, ou de sociologia nesse caso, mais perto de você.

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