Os anos 80 ficaram conhecidos como a década perdida por uma crise financeira e política que se espalhou pela América Latina. Porém, talvez, os anos 90 tenham sido a verdadeira Década Perdida para os Quadrinhos estadunidenses.
Por que os Anos 90 são a década perdida dos quadrinhos
É fato que durante todo o período de existência dos quadrinhos existiram diversas histórias sendo feitas em todo o mundo que desafiavam o mainstream. Porém os quadrinhos estadunidenses sempre foram o maior mercado produtor da mídia.
Então, para o bem ou para o mal, esse mercado sempre influenciou demais os outros países. Portanto é necessário analisar o cenário dos Estados Unidos de maneira crítica se quisermos entender o impacto disso na nona arte. E os anos 90 são um período particular nessa história
A Bolha Especulativa
Nesse período ouve um grande boom de histórias em quadrinhos sendo feitas. Principalmente pela popularização de alguns artistas consagrados da época, como é o caso de Todd McFarlane.
Uma pena que essa popularização não resultou necessariamente em histórias qualidade. Na verdade podemos entender como um impacto negativo duplo: a criação de uma bolha especulativa que não demorou a estoura, e foco nos desenhos com roteiros muito ruins.
A primeira parte desse impacto negativo é a criação de uma bolha especulativa. Isso porque as editoras, em especial a Marvel, vendo o apelo que os artistas tinham com o público não hesitaram em explorar esse apelo para ganhar mais e mais dinheiro.
Então houve um aumento no número de títulos desses quadrinistas. Além de reimpressões cada vez mais absurdas. O mesmo título era reimpresso e lançado em formato de graphic novel com capa dura, capa metalizada, capa alternativa e por aí vai. Os leitores achando que se tratava de grandes obras primas que teriam seu valor aumentado com o passar do tempo, como aconteceu com Action Comcs #01 e similares, compravam cada vez mais desses quadrinhos. E as editoras continuavam lançando.
Há registros de que os lucros da Marvel nunca foram tão altos como nessa época, porém o número de leitores estava estagnado. Ou seja, havia mais revistas sendo vendidas do que leitores comprando essas revistas. O resultado e previsível, a bolha especulativa logo estourou e a Marvel quase veio a falência.
Artes absurdas, roteiros fracos
Porém outro fator que dominava as páginas dos quadrinhos nesse momento era o foco na arte, o que não quer dizer desenhos primorosos.
Os maiores nomes nos quadrinhos nesse momento eram desenhistas, como Todd McFarlane, Rob Liefeld e Jim Lee. Ou seja, o resultado foi uma maior atenção das editoras nos desenhos. Então o destaque era dado às capas e páginas duplas, em detrimento de um bom roteiro, ou mesmo de uma trama sem furos.
Porém esses desenhos não eram necessariamente bons. Afinal o foco desses desenhistas era criar corpos muito muscolosos, personagens femininas hiper sexualizadas e lutas com muita violência gráfica.
Isso resulta em muitas aberrações, como o Capitão América peito de pombo de Rob Liefeld, entre outros heróis e anti-heróis (outro fenômeno desse período) com anatomias bizarras.
Como os Anos 80 levaram aos Anos 90, a década perdida nos quadrinhos?
Talvez isso seja fruto de uma desconstrução que começou nos anos 80, com a Invasão Britânica. Nesse período os autores buscaram desconstruir o estereótipo de super herói e questionar o american-way. O que levou inevitavelmente a histórias mais adultas, com violências, sexo e palavrões, sim, mas tudo com um propósito.
No entanto, parece que esses quadrinistas dos anos 90 entenderam esse movimento muito literalmente. Afinal parece que eles viram apenas como uma estética a ser copiada e explorada. Daí surgem anti-heróis a rodo, personagens cada vez mais violentos e desenhos absurdos.
Inclusive levando a uma guinada conservadora nos quadrinhos, não intencionada pela geração dos anos 80, que possui ideias muito progressistas e liberais.
Mas como todo ciclo esse chegou ao fim e foi superado. Graça a todas as divindades.
Entendeu agora por que os Anos 90 são a década perdida dos quadrinhos