Hoje o texto vai ser uma viagem filosófica lisérgica, então se preparem. Pois o tema de hoje é: A palavra é tudo ou ela não é nada?
Outro dia na faculdade estava tendo uma aula de filosofia. Ou como o próprio professor colocou, aula de loucura. Debatíamos o conceito de verdade absoluta. Existe? Não existe? Caso exista nós, enquanto seres humanos, conseguiríamos atingi-la?
Mas não é sobre isso que quero falar.
Palavra
Chegamos a um ponto no debate onde o professor falou que nosso raciocínio é essencialmente lógico-simbólico, isto é, não conseguimos pensar sem usar palavras. Dúvida? Então, tente. Faça esse experimento, pense sem usar palavras. Mesmo que na sua mente não apareçam as representações gráficas das palavras, elas estão lá. Você pode pensar de maneira imagética, mentalizar um paisagem, por exemplo, mas os conceitos que definem essa paisagem estão presentes. Árvores, lago, casa, horizonte. Complexos ou simples os conceitos pressupõem a palavra.
Impressionismo x Expressionismo
Porém em outra aula, uma muito legal chamada Projeto Criatividade (coisas que só a PUC-PR faz por você), o professor explicava sobre os movimentos artísticos (correntes, escolas, vanguardas, essas coisas). E, para propósitos didáticos, ele separou em duas grandes vertentes, o Impressionismo e o Expressionismo.
Correndo o risco de estar completamente enganado, definirei (por minha conta e risco) a partir do que eu lembro da aula. No impressionismo trata-se de olhar para o mundo e representá-lo, ou seja, criar símbolos. O que conta é a inspiração no real. Já no expressionismo o movimento é contrário, o artista olha para dentro de si e à partir do que “vê” cria algo concreto e palpável. É simbolizar o abstrato.
E é nesse último movimento que a palavra falha. Afinal, podemos definir coisas que vemos no mundo exterior, gato, árvore, prédio, cachimbo. Tudo isso é passível de uma definição mais ou menos exata através da palavra. Porém defina amor, alegria, luto, raiva, ódio…
Onde a palavra falha
É nas coisas internas, nas que mais importam, que a palavra nos falha. Aquilo que usamos para significar o mundo é a mesma coisa que nos limita. Você pode ter a sua definição de amor, mas ela se torna ou muito vaga ou muito excludente quando comparada com a do outro. Sua definição de luto pode não caber na de outra pessoa. Enfim quando postas à prova nossas definições de sentimentos subjetivos nunca serão o bastante.
Talvez isso seja algo bom. Pode ser. Não é o que eu vejo por aí. As definições subjetivas são colocadas em pedestais e tudo que não encaixa nelas é rechaçado e tido como algo ruim. Daí a origem do preconceito, da intolerância. Mas talvez devesse ser o contrário, eu, percebendo minha pequenez, minha limitação, deveria olhar para o outro com empatia e entender que assim como eu a outra pessoa luta com suas limitações.
Enfim, termino minha breve e nada conclusiva reflexão usando as palavras de Criolo, quiçá o último homem lúcido nesse país.
“E por mais que eu tente explicar, não consigo
De tornar concreto abstrato que só eu sinto
É como se eu ficasse aqui nesse cantinho
Vendo o mundo girar no erro abusivo”
Plano de Vôo (Criolo part. Síntese)
Valdirzera é definitivamente um dos autores do InduTalks. Fez filosofia, mas se formou em Publicidade e Propaganda. Adora quadrinhos, livros, série, filmes e todo tipo de nerdice. É apaixonado por produção audiovisual e sonha em um dia dirigir um longa metragem.